terça-feira, outubro 31, 2006

Apocalipse Motorizado concorre a prêmio de melhor blog



O :.apocalipse motorizado está concorrendo ao prêmio "The Bobs - Best of The Blogs", promovido pela agência de notícias alemã Deutsche Welle, que irá escolher os melhores blogs de 2006.

A disputa está na reta final e a votação vai até o dia 11 de novembro. O :.apocalipse motorizado está entre os 10 selecionados pelo juri a partir de indicações feitas pelo público.

Para votar, clique neste link, procure a seção "melhor weblog em português" e selecione a bolinha referente ao blog de sua preferência. Depois é só seguir até o final da página, preencher os dados solicitados e clicar em enviar.

Mais do que a honra de estar entre os 10 selecionados, fica a certeza de que os temas aqui abordados são pertinentes e que repensar a presença determinante do automóvel em nossas sociedades é um passo fundamental para a vida humana neste começo de século.

Além disso, fica também a certeza que existe vida além da pasteurização midiático-comercial que assola os grandes meios de comunicação.

Desde que surgiram, os blogs (assim como os Centros de Mídia Independente e outros meios alternativos) vêm cumprindo um papel fundamental na disseminação de informações que não passam pelo crivo editorial da chamada "grande imprensa", presa a interesses econômicos ou às limitações inerentes ao ritmo industrial de preenchimento de páginas ou grades de programação.


A placa instalada pela sociedade civil durante o Dia Sem Carro
permanecia na frente da prefeitura até o último sábado (28)

A comunicação alternativa e a utilização de tecnologias de rede permite ações muitas vezes surpreendentes e inesperadas, que seriam impossíveis dentro das estruturas convencionais de organização da sociedade.

Hoje existe no Brasil uma rede considerável de troca de informações, articulação de idéias e atividades que permite dizer "estamos vencendo". Mesmo com os automóveis entupindo ruas, páginas de jornais, mentes e horários de televisão e rádio, é fantástico perceber a velocidade com que pessoas se juntam para trocar informações e realizar ações diretas de transformação da realidade.

Basta dar uma olhada no relato do Dia Sem Carro de 2006 ou nos links da seção "boa vizinhança" para ver a qualidade e o potencial destas articulações.

Por fim, fica o profundo agradecimento a todos que seguem construindo cidades mais humanas, com menos poluição, menos barulho e mais convivência entre as pessoas.

Agradecimento especial ao Ned Ludd, autor do livro Apocalipse Motorizado, que além de organizar uma obra que é referência no tema, permitiu a utilização do nome nesta publicação virtual. Aos parceiros das bicicletadas, aos amigos da Transporte Ativo e aos autores de outros blogs, que realizaram tantas pequenas grandes coisas ao longo dos últimos anos. E também ao amigo Bruno Favaretto, que fez o projeto gráfico original do site e ensinou o básico sobre HTML.

* Leia também o texto "Estamos vencendo", de Pablo Ortellado, disponível para download no Disco Virtual. O texto foi extraído do livro homônimo, que traz ainda belas fotos de André Rioky e conta a história dos movimentos de resistência global no Brasil.

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Questão gramatical


142 páginas de anúncios e cadernos especiais de três montadoras
prometendo felicidade, dinheiro e um mundo perfeito
nos três maiores jornais de SP no sábado seguinte ao Dia Sem Carro


Ocultar a destruição ocasionada pelo uso excessivo dos automóveis com malabarismos lingüísticos é tarefa importante da mídia. Congestionamentos e poluição geralmente são tratados como fenômenos naturais, algo que simplesmente acontece, como a chuva.

Mortes no trânsito, ainda que tenham como principal razão o excesso de velocidade e o comportamento do motorista, são chamadas de "acidentes", como se todas as condições prévias não estivessem dadas.

Duas notícias da Folha de São Paulo:

Pedestre morre atropelado na Vila Olímpia

Ônibus bate em poste e deixa feridos na zona norte de São Paulo

No primeiro caso, o agente da frase é o pedestre, ou seja, parece que o cidadão se matou ao ser atropelado por um carro. Testemunhas relataram que o homicida estava em alta velocidade. Logo, o título mais óbvio e completo para a notícia seria "motorista em alta velocidade mata pedestre na Vila Olímpia".

Na segunda notícia, quem pratica a ação na frase é o ônibus, veículo dedicado àqueles que não conseguem comprar carro, portanto passível de atrocidades como atropelamentos.

Enquanto os feridos pelo ônibus ganham justa "inocência gramatical" no título escolhido pelo jornalista, a vítima fatal do automóvel ainda foi tratada como sujeito da ação ("pedestre morre").

(dica: Danilo Martinho May)

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segunda-feira, outubro 30, 2006

Cidadania sobre duas rodas - pedal eleitoral no Rio de Janeiro


(foto: Zé Lobo / Transporte Ativo)

Alguns cariocas deram um belo exemplo de cidadania no último domingo (29)... e não foi apenas o ato de apertar algumas teclas na triste e sem graça urna eletrônica, que impede manifestações criativas durante a escolha compulsória dos nossos (?) representantes.


calçada de São Paulo no primeiro turno

Ao contrário de muitos paulistanos (e, certamente, "cidadãos" de outras partes do Brasil), eles não ocuparam espaço, não poluiram o ar, não atrapalharam pedestres e ainda aproveitaram o dia de votação para trocar idéias e transformar o espaço urbano em um local mais agradável.

informações e fotos do pedal eleitoral:
[blog.transporteativo.org.br]

[fotolog zé lobo]

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Jornalista de mídia independente assassinado por paramilitares no México


(texto reproduzido do CMI)

Às 18:03 da última sexta-feira, 27 de outubro, o site do Centro de Medios Libres noticiou a morte de um voluntário da Rede Indymedia. Bradley Roland, voluntário do CMI Nova York foi morto com um tiro no peito em frente ao palácio municipal na cidade de Caliente, Estado de Oaxaca, México. Brad estava cobrindo o levante popular em Oaxaca e a resistência por parte da Assembléia Popular do Povo de Oaxaca (APPO).

De acordo com a Radio APPO, durante um ataque de um grupo paramilitar pró-governo a uma barricada da APPO, o voluntário e documentarista Brad foi atingido por um tiro no peito. Além dele, um fotógrafo do jornal Diário Milenio, Oswaldo Ramirez, foi ferido no pé. O CML ainda informa que a Polícia Federal Preventiva está invadindo Oaxaca e os paramilitares estão atacando a população civil em uma operacão chamada "caravana da morte".

Na terça-feira (31), às 13h, acontece um ato em solidariedade aos povos de Oaxaca e contra o assassinato de Brad Will no consulado mexicano em São Paulo. O consulado fica na rua Holanda, 274.

No Rio de Janeiro o ato acontece na quarta-feira (01), às 11h. O Consulado do México no Rio fica na Praia de Botafogo, 242.

[leia mais sobre o levante em Oaxaca e o assassinato de Brad Will]

[texto da Agência Carta Maior sobre Oaxaca]

[vídeo com Alejandro Buenrostro explicando a situação em Oaxaca]

[vídeo póstumo de Brad Will para download]

[vídeo póstumo de Brad Will no Google Video]

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sexta-feira, outubro 27, 2006

Red Bull deve R$5,6 mil aos cofres públicos - exibicionismo perigoso de fórmula 1 não custou R$37 mil

Ao contrário do que informou este site automobilístico, o custo do evento publicitário que colocou um veículo de Fórmula 1 para desfilar em ruas comuns de São Paulo foi de R$25.990,24, e não de R$37 mil (como afirmou o site).

Do valor total, R$20.387,74 já foram pagos. Os R$5,6 mil restantes ainda estão sendo cobrados.

Desta vez a informação tem fonte segura e oficial, ao contrário do site automobilístico, que divulgou a informação como vinda de uma "fonte graduada" (e oculta) da CET.

O e-mail enviado pelo apocalipse motorizado à CET fazia três perguntas. Confira abaixo as respostas do órgão de trânsito e, ao final, algumas considerações:

1) a empresa pagou os custos operacionais da CET? Se sim, qual foi o valor e, como cidadão e jornalista, onde posso consultar e comprovar este pagamento?

CET: O evento foi pago previamente pelo seu promotor. O custo total do evento foi de R$25.990,24, dos quais R$20.387,74 foram pagos previamente. A diferença deveu-se a acréscimo da prestação de serviço em vista de um replanejamento da atividade. Esta diferença está sendo cobrada. A constatação do pagamento pode ser feita em nossa Gerencia Financeira.

2) a empresa comunicou a CET com 45 dias de antecedência? Se sim, em qual data foi feita a comunicação?

CET: A solicitação do evento não considerou os prazos estipulados na legislação, mas pode ser atendido pela CET, como inúmeros outros eventos. A legislação é recente e ainda estamos educando a população com relação a prazos.

3) Quais foram os critérios que motivaram a CET a autorizar o evento, que permitiu um veículo atingir 250km/h em uma via onde o limite de velocidade é de 80km/h?

CET: O evento foi organizado e autorizado pela SPTuris, a SMSP (Secretaria das Supprefeituras), a Guarda Civil Metropolitana e pela CET, sendo estipuladas condições e restrições técnicas aos promotores do evento, as quais foram todas cumpridas: o itinerário foi totalmente segregado, dentro das normas de segurança viária, por meio de gradis, cavaletes e fita zebrada. Foi realizado de madrugada, sendo monitorado pela Polícia Militar e pela Guarda Civil Metropolitana, com disposição de agentes da CET ao longo de todo o trajeto. O horário previamente estabelecido foi cumprido rigorosamente. Cabe observar, finalmente, que os radares ao longo do percurso não registraram a velocidade alegada pelo missivista.



A informação a respeito das medidas de segurança não condizem muito com o que aconteceu. Basta assistir ao vídeo para ver que não haviam gradis, nem ao menos fitas zebradas segregando o trajeto do carro de Fórmula 1. A não ser que "segregar" seja apenas separá-lo apenas dos outros carros, desconsiderando (como de praxe) a segurança de pedestres, ciclistas e outros entes do trânsito.

O pedestre da foto acima, por exemplo, atravessa livremente a rua dois segundos antes do bólido passar. Dos ítens de segurança citados, só é possível ver cones para interditar o trânsito e cavaletes para impedir o estacionamento de veículos no trajeto a ser percorrido.



Outro detalhe nada seguro foi o fato da outra pista da 23 de maio não ter sido interditada. Qual motorista não estranhou a ausência de carros na pista contrária, já que a avenida é o principal eixo viário da cidade, com fluxo 24 horas por dia? Qual motorista não pisou no freio e olhou para o lado quando o carro de Fórmula 1 passou? Qual motorista não foi surpreendido pelo "ronco estrondoso do motor", que mexe com a libido dos "amantes da velocidade" e pôde ser ouvido a distância? Vale lembrar que chovia no momento da exibição.

Por sorte, não houve nenhum engavetamento. Por sorte, o pedestre que cruzou a rua estava 2 segundos adiantado. Por sorte o piloto do fórumula 1 não passou por nenhum buraco ou tampa de bueiro que jogasse o carro longe. Por sorte... Já que as medidas de segurança do evento estiveram bem aquém daquelas existentes em qualquer autódromo de corrida.

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quinta-feira, outubro 26, 2006

Cidade do Automóvel na TV Cultura



Depois de quase dois anos circulando por meios alternativos, milhares de downloads e quase duas centenas de cópias em DVD, o vídeo "Sociedade do Automóvel" será exibido em rede de TV aberta.

A exibição acontece no programa Campus da TV Cultura, às 9h30 da manhã do próximo sábado (28), com reprise na terça-feira (31), às 7h.

A versão "made for TV" é, na verdade, uma reedição do vídeo original. Os 39 minutos originais foram reduzidos para dois blocos de 11. A nova cópia também ganhou outro nome: "Cidade do Automóvel".

"Cidade do Automóvel" trata de mobilidade e cultura do automóvel em São Paulo, a cidade que tem um carro para cada dois habitantes, uma taxa de ocupação de 1,2 pessoa por veículo e índices de congestionamento, poluição, estresse e agressividade cada vez mais altos.

No lugar da praça, o shopping center; no lugar da calçada, a avenida; no lugar do parque, o estacionamento; em vez de vozes, motores e buzinas. Uma reflexão audiovisual sobre o uso excessivo do automóvel e suas consequências urbanas, ambientais e humanas.

Confira na tevê ou assista a versão original na internet.

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Eu destruo, você preserva



Se fosse um animal de verdade, o macaquinho bem que poderia estar no capô do carro, todo ensangüentado ou em pedacinhos, depois de ter sido atropelado em uma estrada qualquer.

Capas de pneu das caminhonetes que carregam geralmente uma pessoa e quase sempre circulam apenas na cidade são uma amostra incrível do que é a cultura do automóvel.

Essa artimanha deve servir como tentativa subliminar para aliviar a consciência dos motoristas. Faça o que eu digo, não faça o que eu faço. Coloque um macaquinho e uma frase bonita e esqueça que a cultura do automóvel é uma das maiores responsáveis pela destruição do meio ambiente, especialmente aquele onde vive o ser humano.

Além de ser o principal responsável pela poluição em São Paulo, o carro desintegra a noção de convivência em sociedade, expande a cidade, degrada o espaço público e ocupa muito espaço com circulação e estacionamento.

[álbum de fotos]

[cartaz ecotransporte no Disco Virtual]

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quarta-feira, outubro 25, 2006

Passe Livre - jornada nacional no dia 26


(imagem: mpl-sp)

Quinta-feira (26) acontece mais uma jornada nacional do movimento Passe Livre, que reivindica "transporte público de verdade, sem exclusão social, e a participação da população na gestão".

Em São Paulo o encontro é na Praça da Sé, às 13h30.

Ao final do dia, às 19h, o Felco realizará uma mostra de vídeos sobre o tema na Praça do Patriarca.

Vale a pena escutar essa palestra de Lúcio Gregori, ex-secretário de Transportes na gestão de Luiza Erundina (1990-1992) como prefeita de São Paulo.

Programação em outras cidades para o dia 26:
[ABC], [Curitiba], [Distrito Federal], [Florianópolis], [Joinville]

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Estacionamentos, paraciclos e bicicletários


estacionamento para carros do Sesc Santo André
(foto: Marcelo Martins)


A palavra estacionamento geralmente lembra o espaço destinado aos automóveis, como o grande terreno da foto acima, no Sesc de Santo André.

Para o estacionamento de bicicletas existem dois nomes: bicicletários e paraciclos. Os bicicletários são estruturas, digamos, "mais completas" que os paraciclos. Geralmente oferecem algum tipo de segurança, controle e outras facilidades como vestiários e chuveiros.

Infelizmente não temos nenhuma foto de um exemplar dessa espécie de estacionamento de bicicletas em São Paulo.

No Rio de Janeiro, a ONG Transporte Ativo está há algum tempo lutando pela instalação de um bicicletário na garagem da Cinelândia. No último Dia Sem Carro a ONG colocou o bicicletário para funcionar em caráter expermiental e exigiu o cumprimento de uma cláusula do edital que prevê estrutura para estacionamento de bicicletas.


paraciclo-gambiarra no Centro Cultural São Paulo

Paraciclo é uma estrutura mais simples que o bicicletário. Trata-se de uma parte do mobiliário urbano adequado para esta finalidade, ou seja, que não danifique a bicicleta e permita a colocação de uma trava ou cadeado.

Em São Paulo esta peça de mobiliário urbano é tão rara quanto bancos para sentar ou bebedouros públicos. As espécies mais comuns de paraciclo são as grades, orelhões, caixas de correio e postes (foto acima).

No paraciclo do mesmo Sesc de Santo André (abaixo) o aviso sincero e bem escrito de que a instituição não se responsabiliza pelas bicicletas estacionadas de improviso na grade.

[fotos de paraciclos em São Paulo]

[estabelecimentos com locais adequados para bicicletas]

[fotografou um paraciclo-gambiarra? mande pra cá]


paraciclo-gambiarra do Sesc Santo André
(foto: Marcelo Martins)


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terça-feira, outubro 24, 2006

Flores X fumaça



Na foto acima as tradicionais bancas de flores da avenida Dr. Arnaldo... Ou melhor, o "drive-thru" de flores na Dr. Arnaldo.

Apesar da avenida geralmente apresentar trânsito pesado, o estacionamento de consumidores motorizados é permitido no local durante todo o dia.

Pouco antes das bancas há um ponto de ônibus. Depois do embarque e desembarque de passageiros, os coletivos são obrigados a desviar do "drive-thru", complicando ainda mais o fluxo de veículos.

Pedestres circulam espremidos e chegam a ter pouco mais de 30cm de calçada livre nos trechos onde existem postes. Cadeirantes, idosos e deficientes físicos têm o direito de ir e vir cerceado pelo planejamento urbano voltado para o automóvel (como em boa parte da cidade).

De bicicleta ou a pé ainda é possível sentir o aroma das flores, ainda que misturado com a fumaça dos escapamentos.

No espaço ocupado pelo "drive-thru" seria possível construir uma calçada mais larga (pelo menos dentro dos limites mínimos estabelecidos na lei) e ainda sobraria terreno para uma ciclovia.

A avenida ganharia vida, as flores ficariam mais bonitas e a cidade teria um belo ponto de convivência entre as pessoas no lugar ocupado por meia dúzia de carros estacionados.

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segunda-feira, outubro 23, 2006

Uma imagem, um stencil



Acima, a ilustração do Stig pergunta "quantos mortos por litro?".

Abaixo, um stencil do Sam Higgs indicado pelo Martino, do Bike Lane Diary.


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Uma nota só



As propagandas de veículos são tão repetitivas e entediantes quanto o ato de dirigir. Geralmente baseiam-se no estímulo ao individualismo, na exaltação da velocidade e na ilusão de poder e liberdade.

Outra característica comum é o fato das propagandas de carro sempre esconderem o mundo degradado resultante da própia cultura do automóvel. Nunca se vê um carro em um congestionamento ou em uma cidade poluída, espalhada e degradada.

Na "obra" acima, o carro (sempre sozinho) anda perto de uma árvore, aquela que a cultura do carro ajuda a destruir com sua poluição, desperdício de espaço e de recursos naturais.

"Pare de andar por aí atrás de felicidade e ande dentro dela". Se o "mundo lá fora" é ruim e abandonado, para que participar dele? Isole-se no seu veículo, feche os vidros escuros e esqueça que você faz parte da cidade onde (sobre)vive.

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sábado, outubro 21, 2006

Exibicionismo privado e irresponsabilidade no espaço público


no detalhe, o congestionamento causado para realizar
o exibicionismo privado de estímulo ao comportamento irresponsável


Apesar dos congestionamentos e das perdas econômicas estimadas em R$600 milhões/ano por causa do uso excessivo de veículos, a Prefeitura de São Paulo se prestou ao ridículo papel de fechar ruas e avenidas para um show de exibicionismo privado e de estímulo à direção irresponsável.

Na manhã da última quarta-feira, avenidas importantes da cidade como a 23 de maio foram interditadas ao tráfego para que um carro de fórumla 1 pudesse fazer o seu showzinho promocional.

A CET mobilizou dezenas de agentes e veículos para interditar as ruas, prejudicando a circulação dos cidadãos paulistanos pouco antes das 6 horas da manhã (um dos poucos horários em que não há congestionamentos na capital).

Segundo a lei 14.072 e o decreto 46.942, os organizadores de eventos que interditem as ruas devem comunicar a CET com 45 dias de antecedência e arcar com os custos operacionais do órgão de trânsito.

Na madrugada de sexta-feira (20) foi enviado o e-mail abaixo perguntando se a empresa realizadora do evento cumpriu as leis paulistanas, avisou no prazo estipulado e arcou com os custos operacionais do fechamento das ruas. Até o início da tarde de sábado (21) não havia resposta. As perguntas também foram enviadas ao gabinete do prefeito e através da seção "fale conosco" do site da CET.

Só a capital do automóvel e da estupidez para se prestar a um papel ridículo como esse. É difícil acreditar que outras cidades decentes do mundo mobilizariam recursos públicos interditando avenidas importantes em um dia comum para uma atividade promocional de uma empresa.

Além disso, os critérios para a aprovação do evento são absolutamente duvidosos. O excesso de velocidade é a principal causa de mortes no trânsito brasileiro. Ao permitir que um automóvel de corrida circulasse em um dia de semana pelas ruas comuns a 250km/h, a CET deu um péssimo exemplo para a educação no trânsito. Só no Terceiro Mundo mesmo...

[artigo no +vá de bike!+]


(agradecimentos: Goura Nataraj / Lilx)

O e-mail abaixo também foi enviado através do site da CET (imagem acima):

To: CET - Imprensa , gabinetedoprefeito@prefeitura.sp.gov.br,
Date: Oct 20, 2006 2:13 AM
Subject: perguntas sobre evento publicitário de Fórmula 1

Bom dia,
meu nome é ******, sou jornalista, ciclista e, antes de tudo, cidadão paulistano.

Li com grande espanto a notícia de que uma empresa privada de "Fórmula 1" realizou um evento publicitário utilizando-se de importantes ruas e avenidas da cidade e que tal evento publicitário contou com apoio logístico e operacional da Companhia de Engenharia de Tráfego. Diversas ruas foram interditadas para a circulação dos cidadãos em automóveis, motos, bicicletas e no transporte público, incluindo o principal eixo viário da cidade (a avenida 23 de maio).

Ciente da lei número 14.072, que prevê o pagamento dos custos operacionais da CET pelo realizador do evento, e do decreto 46.942, que prevê a comunicação com 45 dias de antecedência para a realização de eventos que interrompam vias de trânsito rápido, pergunto:

1) a empresa pagou os custos operacionais da CET? Se sim, qual foi o valor e, como cidadão e jornalista, onde posso consultar e comprovar este pagamento?

2) a empresa comunicou a CET com 45 dias de antecedência? Se sim, em qual data foi feita a comunicação?

3) O evento foi único no mundo. Nenhum outro país ou cidade havia autorizado a utilização de suas vias para veículos de corrida em dias "normais". Quais foram os critérios que motivaram a CET a autorizar o evento, que permitiu um veículo atingir 250km/h em uma via onde o limite de velocidade é de 80km/h?

Por fim, faço algumas considerações:
Lamento que a Prefeitura desta cidade, através de seu órgão de trânsito, tenha permitido a realização do supracitado evento promocional. Como sabemos, o excesso de velocidade é a principal causa de mortes no trânsito brasileiro e a principal infração cometida em São Paulo. Ao permitir que o estímulo à velocidade aconteça nas ruas da capital (e não em local apropriado, como um autódromo), a Prefeitura está, no meu entendimento, estimulando o comportamento irresponsável e perigoso de nossos motoristas.

No aguardo das respostas,
--
****** ********


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quinta-feira, outubro 19, 2006

Bicicleta: mais uma vez na frente do carro


(participantes do intermodal de Santo André / foto: divulgação DTC)

Na última quarta-feira (18) o Departamento de Trânsito e Circulação de Santo André realizou seu primeiro desafio intermodal. Assim como já havia acontecido em São Paulo e no Rio de Janeiro, a bicicleta venceu novamente o automóvel.

No percurso entre a praça IV Centenário e a caixa d'água da Vila Mariana (São Paulo), o ciclista levou 46 minutos, apenas 6 minutos a mais do que a moto, primeira colocada no quesito velocidade. O carro, tido e vendido como sinônimo de liberdade e velocidade, chegou em 58 minutos ao seu destino.

A moto, veículo mais rápido, é também o mais poluente e o mais perigoso. Chega a poluir mais do que um ônibus e mata um motociclista por dia nas ruas de São Paulo. Já a bicicleta, veículo não poluente e saudável, que ainda proporciona bem-estar e integração com a cidade, comprova seu excelente desempenho como meio de transporte.

Confira abaixo os resultados:

Moto (Rodrigo) - 40 minutos

Bicicleta (Marcelo) - 46 minutos

Moto (Welinton) - 49 minutos*

Automóvel (José Batista) - 58 minutos

Bicicleta (Renato) - 1 hora e 23 minutos**

Trem + ônibus (Adriana) - 1 hora e 28 minutos

Trolebus + Metrô (Alexandre) - 1 hora e 35 minutos

Trem + Metrô (Antônio) - 1 hora e 50 minutos***

* Welinton fez o mesmo percurso que o Rodrigo, com a diferença que o Welinton só andou em corredores (no meio dos carros) quando o tráfego estava congestionado ou nas aproximações de semáforo quando este estava vermelho, daí a diferença entre os tempos das duas motos.

** O selim da bicicleta do Renato quebro durante a viagem, prejudicando-a.

*** Antônio é deficiente físico e fez o percurso de cadeira de rodas.

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quarta-feira, outubro 18, 2006

Largando o vício


(www.shtig.net - reprodução permitida mediante crédito ao autor)

Chegou o número 28 da revista Carbusters, com a bela ilustração acima na capa e um especial sobre como deixar de lado a dependência do automóvel.

"Advertência: deixar de dirigir aumenta muito a sua chance de uma vida mais saudável e feliz"

"Efeitos colaterais incluem degradação social e ambiental, sentimentos de raiva e isolamento, além de políticas externas assassinas".

A Carbusters é a única publicação do gênero que eu conheço. Vale a pena dar uma lida no conteúdo online e, se você tiver algum troco sobrando, assinar a revista. De quebra você ainda pode aproveitar o frete e encomendar alguns adesivos "um carro a menos".



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terça-feira, outubro 17, 2006

Motos na Sumaré ou "Verde? Que verde?"


(cadê o semáforo de pedestres?)

A avenida Sumaré, na zona Oeste de São Paulo, vem se consolidando como o campo de provas da CET, espaço onde os gerentes do caos podem abrir a sua caixinha de malvadezas e testar o que será feito no resto da cidade.

Há pouco tempo implantaram uma faixa segregada para motos. Como disse Guy Debord, a moto não é nada mais do que um subproduto do automóvel; ela não tem nada a ver com bicicletas ou pedestres. Em São Paulo isso é claro como o branco dos olhos.

Na década de 90 aconteceu a abertura do mercado e a substituição das "carroças" (termo cunhado por Fernando Collor, o senador) por modernas máquinas. O enxame de veículos contou com generosos subsídios à indústria automobilística (que continuam em vigor até hoje) e com a estabilização (?) da economia, que permitiu a difusão em massa da moderna escravidão, chamada de crediário.

Com o aumento exponencial no número de carros em circulação, as ruas começaram a parar. Para que a moderna economia não parasse também, pequenas e grandes empresas começaram a se utilizar de uma característica comum aos países subdesenvolvidos: a mão de obra barata, ou melhor, a vida humana que não vale nada.

No lugar dos saudosos office-boys que circulavam tranquilamente de ônibus ou a pé, surgiram os motoboys, sub-empregados insanos que correm que nem loucos para tirar alguns trocados para o "leite das crianças".

A implantação generalizada do sistema de entregas por motocicletas gerou alívio econômico. Aos poucos, no entanto, o uso excessivo desta forma de transporte de mercadorias começou a gerar mais um problema urbano: o aumento da violência na disputa por espaço com os motoristas.

Espelhos quebrados, chutes nas portas e assaltos por duplas em motos começaram a incomodar a classe média "formadora de opinião". Além disso, as mortes de anônimos motoboys começaram a engrossar significativamente a estatística de óbitos no trânsito.

Para resolver os espelhos quebrados, os gerentes do caos fizeram o que estão habituados a fazer: criaram um paliativo, segregando as motos em uma faixa esclusiva. Logo nos primeiros dias, alguns "acidentes" com pedestres e motos fizeram com que a CET fosse obrigada a tomar algumas medidas. Entre elas, a placa da foto acima.

"Pedestre, cuidado: motocicleta. Só atravesse no VERDE", diz a placa. O detalhe kafkaniano é que as travessias de pedestres da Sumaré não possuem semáforo para pedestres! Aliás, encontrar semáforos de pedestres em São Paulo é tão difícil quanto encontrar um político que use diariamente transporte público ou não-motorizado.

Isso pra não falar que a lógica da CET ao tratar os pedestres subverte o código de trânsito e o bom senso. Diz a lei que cabe sempre ao condutor do veículo mais pesado zelar pela segurança do mais leve e que todos devem zelar pela segurança do pedestre. Não seria tão ou mais razoável uma faixa "motociclista, cuidado com o pedestre". Mas estamos em São Paulo, cidade onde o carro é rei, a moto é a rainha e o pedestre.... o que é um pedestre mesmo?

A segregação dos diversos veículos não é solução para nada. Assim como no caso das ciclovias, é inviável criar faixas separadas para cada tipo de veículo em todas as ruas da cidade. As vias devem ser compartilhadas por todos. Mesmo assim, publicações facistas como a revista Veja preferem criticar a iniciativa pelo único ponto de vista que satisfaz boa parte dos "formadores de opinião": os congestionamentos.

Nesta reportagem, a pseudo-revista chega a afirmar que a culpa dos congestionamentos na Sumaré é da motofaixa, e não da permissão de estacionamento em boa parte da avenida ou do excesso de veículos em circulação em toda a cidade. Para a Veja, a morte de um motoboy por dia é um preço justo para que 30% da popualção continue a entupir as ruas com suas máquinas de quatro rodas e pedir pizza pelo telefone.

[artigo no +vá de bike!+ sobre a motofaixa]

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segunda-feira, outubro 16, 2006

Procedimento padrão


pedestres amontoados na calçada por causa das motos da PM

Infelizmente o termo "policiamento ostensivo" continua a significar a atividade policial feita contra os cidadãos, aquela que viola direitos coletivos e individuais em troca da simples ostentação de poder para "manter a ordem (?)", ou melhor, para proteger a propriedade privada.

Há alguns anos a polícia de São Paulo percebeu que as sirenes de suas viaturas de quatro rodas não eram mais eficientes (mesmo com o aumento significativo de volume ao longo dos anos). Além dos vidros blindados e fechados dos carros "civis", que impedem ao motorista escutar o "mundo lá fora", as ruas entupidas de carros se tornaram uma realidade que nenhuma sirene é capaz de resolver.

Então a polícia adotou motos, veículos que poluem mais do que um ônibus, mas que permitem "agilidade" no tal "policiamento ostensivo".

Na avenida Paulista as motos costumam estacionar na saída das faixas de pedestre, chegando às vezes a interditar por completo a passagem dos transeuntes.

Como o exemplo é regra e não excessão, conclui-se que a atitude dos motoqueiros policiais não é apenas um deslize de um soldado desavisado, mas sim uma orientação dos superiores, o que torna o fato ainda mais lamentável.

outras cenas cotidianas de abuso policial:
[1], [2], [3], [4], [5], [6]



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domingo, outubro 15, 2006

Vídeos: vaga viva e bicicletário no Dia Sem Carro carioca



No ar dois belos vídeos feitos pelo pessoal da Transporte Ativo durante o 22 de setembro no Rio de Janeiro. O primeiro é um video-relato da Vaga Viva, atividade de humanização de algumas vagas de automóveis realizada na véspera do Dia Sem Carro.



O outro vídeo mostra a revitalização do estacionamento da Cinelândia. O edital de concessão previa um bicicletário, mas a empresa que gerencia o espaço não estava cumprindo esta cláusula. A Transporte Ativo não só colocou o bicicletário para funcionar no 22 de setembro, como também recebeu a promessa de que o espaço deverá ser reativado de forma definitiva em breve.

[outras notícias sobre o 22 de setembro]

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sábado, outubro 14, 2006

SP em movimento - estatísticas sobre mobilidade


(tela inicial do São Paulo em Movimento - Prefeitura)

Os dois órgãos executivos responsáveis pela mobilidade em São Paulo nunca conversaram. De um lado a bem-equipada e moderna CET. De outro, a capenga e sucateada SPTrans, responsável pelo serviço transporte público na capital (aí incluídos os taxis).

A CET, que deveria se preocupar com a circulação de todos os habitantes, consolidou-se como gerente do caos motorizado, responsável quase que exclusivamente pelo "bom" fluxo das ruas, ou seja, tem como missão garantir ao menos 10km/h de velocidade média para os 30% possuidores de automóveis.

A SPtrans surgiu com a extinção da antiga CMTC (empresa estatal que gerenciava os ônibus da capital). Sua estrutura é precária, seus postos de venda parecem saunas e o atendimento ao público é péssimo.

Uma comparação entre os sites dos dois órgãos é um bom começo para entender quais são as prioridades desta cidade.

De qualquer forma, uma pequena iniciativa reuniu as duas empresas públicas, pelo menos no campo virtual. Trata-se do São Paulo em Movimento, site que reúne informações e estatísticas sobre transporte público e trânsito em São Paulo.

Como o próprio nome já diz, são "dados básicos" e extremamente limitados. Não há, por exemplo, informação sobre a média de congestionamentos, número de deslocamentos por bicicletas, poluição emitida pelos diferentes meios de transporte ou tipos de infrações mais freqüentes.

É interessante descobrir, por exemplo, que a cidade tem apenas 158 vagas para deficientes físicos, ou que apenas 550 dos 17.000 km de ruas são monitorados pela CET.

As novidades descobertas no São Paulo em Movimento foram adicionadas à seção Apocalipse em Números que, cá entre nós, está bem mais completa que o site oficial.

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quinta-feira, outubro 12, 2006

Carro-Rei II



Este é um clássico: na porta do colégio a impunidade vigora. Para evitar que as crianças cada vez mais gordas e sedentárias andem pelas "perigosas" ruas da cidade, pais e mães costumam fazer estripulias com suas máquinas nas proximidades das escolas particulares de São Paulo.

Além da fila dupla, a cidadã (?) do mamute acima também estacionou seu pequeno veículo em cima da faixa de pedestres para buscar seu pimpolho na escola. Nada que um pisca-alerta não resolva...

Para fugir do ensino público "ruim", escola privada para os filhos. Para fugir do espaço público "ruim", transporte privado para toda a família.

O que é público é ruim porque foi abandonado pelos "30% de cima" ou os "30% de cima" abandonaram os espaços públicos porque eles são ruins? Como todo ciclo vicioso, não é fácil identificar início ou final, causa ou conseqüência. E assim entra em vigor a lei máxima do capitalismo no terceiro mundo: "salve-se quem puder (pagar)". Tudo com ampla conivência da sociedade e do poder público.

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quarta-feira, outubro 11, 2006

Carteiro, aquele ser inferior que anda a pé


(dica: gira)

O banco acima vive fazendo propagandas de marketing social, se diz preocupado com o meio-ambiente e com o futuro da humanidade. Mas a propaganda enviada pelo correio atinge níveis máximos de cretinice.

Como pode você, um ser superior, consumidor, bem-sucedido e bonito andar pela cidade da mesma forma que o carteiro da sua rua?



Para "realizar o seu sonho" de superioridade você tem duas opções: três ou cinco anos de escravidão bancária lhe permitem possuir um veículo poluidor para se diferenciar daquele serviçal que não gasta combustível, não ocupa espaço, não faz barulho e não polui o ar para entregar propagandas de banco, contas de telefone e outros tipos de mala-direta não-solicitadas.

Mas o tal banco é muito preocupado com a sustentabilidade do planeta, por isso confeccionou a propaganda indesejada em papel reciclado... Ah bom...

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terça-feira, outubro 10, 2006

Transporte de carga



Dois veículos não poluentes para o transporte de carga: à esquerda, pequenas encomendas; à direita, os grandes responsáveis por evitar o colapso dos lixões da cidade, que transbordam com o excesso de embalagens da sociedade do consumo descartável.

Como diz a plaquinha na carroça, ambos são veículos e têm o direito de circular nas ruas com tranqüilidade e preferência sobre os veículos automotores.

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segunda-feira, outubro 09, 2006

Carro-Rei I



Entre todos os veículos motorizados, nenhum goza de tanta liberdade quanto o da foto acima. Os carros-forte podem circular em dias de rodízio, não estão sujeitos às restrições de horários e locais para caminhões e podem estacionar em qualquer lugar para carregar os lucros de bancos e grandes redes comerciais.

Enquanto permanecem nas calçadas, além de atrapalhar a passagem de pedestres e deficientes físicos, os carros-forte deixam o motor ligado e lançam uma deliciosa e saudável fumaça de óleo diesel na cara de quem, por vontade ou falta de espaço, se aproxima de sua traseira.



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Rotas para ciclistas no Bikely - agora com nomes de ruas



Recentemente o Google adicionou nomes de ruas aos mapas de várias cidades brasileiras, entre elas São Paulo e Rio de Janeiro.

Agora ficou bem mais fácil utilizar o Bikely, uma poderosa ferramenta colaborativa que ajuda os ciclistas na escolha dos melhores caminhos para os deslocamentos urbanos.

O Bikely utiliza os mapas do Google Maps e permite ao usuário traçar o seu caminho pela cidade e incluir comentários e dicas. As rotas ficam armazenadas e podem ser consultadas e visualizadas por todos os usuários (incluindo os não-cadastrados no serviço).

Aqui você encontra as rotas já criadas por usuários paulistanos.

O Bikely é bem simples de usar, mas fica um aviso: é viciante. Ao traçar uma rota no Bikely, não se esqueça de acrescentar comentários sobre as vias percorridas e dicas de segurança úteis para os outros ciclistas (como locais de trânsito pesado, subidas íngremes, vias esburacadas, etc).

Vale também adicionar informações como pontos turísticos ou locais interessantes que só quem está do lado de fora de um automóvel consegue enxergar.



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sexta-feira, outubro 06, 2006

De encher os olhos



O garoto em cima da bicicleta aguardava o farol verde antes da faixa de pedestres. Um exemplo para muito marmanjo que "pilota" carro, moto ou bicicleta e costuma ignorar a preferência máxima do pedestre no trânsito.

Quando o farol ficou verde, o motorista no primeiro carro da fila acelerou para virar à direita antes do pequeno ciclista. O garoto não se intimidou: acenando com as mãos, indicou que ia reto e pediu passagem. Afinal, se no lugar de uma bicicleta fosse um caminhão, certamente o motorista pensaria duas vezes antes de fechá-lo. Quando o apressado condutor finalmente deixou de avançar seu veículo para cima da bicicleta, o garoto agradeceu e seguiu pedalando.

Poucos marmanjos têm tamanha presença de espírito e calma para lidar com situações como esta sem perder a cabeça e sem deixar que violem o seu direito de circular com tranquilidade.

Andar de bicicleta em São Paulo exige calma, diálogo, respeito, atenção e cordialidade. Entrar na lógica competitiva e agressiva do trânsito motorizado é, acima de tudo, desperdício de energia. Afinal, o mundo da violência é o mundo do automóvel, que isola as pessoas dentro de bolhas metálicas, impede a convivência, degrada o espaço público, estimula a competição, provoca angústia, raiva, tédio, solidão, obesidade, alienação....

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quinta-feira, outubro 05, 2006

Não cabe? Põe na calçada



Por trás dos vidros escuros e semi-fechados, uma senhora conversava tranquilamente em um telefone celular. Provavelmente esperava por alugém que tinha ido até a loja "só um instantinho e já voltava".

Para que dar ré e estacionar como os outros veículos? No mais, o estacionamento correto poderia atrapalhar a saída do carro cinza. E aí a a pobre senhora seria obrigada a mais uma manobra com sua desajeitada carruagem. Melhor não causar tanta confusão no trânsito, afinal, "é só um instantinho".

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quarta-feira, outubro 04, 2006

Você e o "seu" motor



Às vezes bate a sensação de que já chegamos ao 1984 de George Orwell e que a novilíngua já é a linguagem corrente. Se analisarmos apenas a publicidade que cerca o automóvel, a sensação vira certeza e não fica difícil entender o que Guy Debord chamou de a "materialização de um conceito de felicidade que o capitalismo desenvolvido tende a divulgar para toda a sociedade".

O termo "revitalização" é usado para justificar a expulsão dos pobres das regiões centrais de São Paulo, Curitiba e outras cidades ao redor do país.

Também chama-se de "revitalização" o extermínio dos calçadões das regiões centrais e sua consequente abertura para as máquinas. [1], [2], [3], [4] , [Curitiba]

Se o marqueteiro nazista Joseph Goebbles fosse abastecer seu Volkswagen no Brasil em 2006, teria a sensação de missão cumprida.

"Revitalização instantânea para você e seu motor". O fenômeno de dependência e fusão entre o corpo humano e as máquinas de quatro rodas é tamanho que a frase "você e seu motor" passa despercebida.

Será que a Shell sugere que bebamos petróleo para "revitalizar" a flora intestinal ou fortalecer os músculos do coração? Ou será que já nem percebemos a distinção entre nossos corpos e os produtos que nos cercam?

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terça-feira, outubro 03, 2006

Situacionistas e o trânsito

1- O erro de todos os urbanistas é considerar o automóvel individual (e seus subprodutos, como a motocicleta) essencialmente como meio de transporte. A rigor, ele é a principal materialização de um conceito de felicidade que o capitalismo desenvolvido tende a divulgar para toda a sociedade. O automóvel como supremo bem de uma vida alienada e, inseparavelmente, como produto essencial do mercado capitalista está no centro da mesma propaganda global: ouve-se com frequência, este ano, que a prosperidade econômica norte-americana dependerá em breve do êxito do slogan: "Dois carros por família".

2- O tempo gasto nos transportes, bem como observou Le Corbusier, é um sobre-trabalho que reduz a jornada da vida chamada livre.

3- Precisamos passar do trânsito como suplemento do trabalho ao trânsito como prazer.

4- Querer refazer a arquitetura em função da existência atual, maciça e parasitária dos carros individuais é desolcar os problemas com grave irrealismo. É preciso refazer a arquitetura em função de todo o movimento da sociedade, criticando todos os valores efêmeros, ligados a formas de relações sociais condenadas (a família é a primeira delas).

5- Mesmo que seja possível admitir provisoriamente, num período de transição, a divisão absoluta entre zonas de trabalho e zonas de habitação, será necessário ao menos prever uma terceira esfera: a da vida em si (esfera da liberdade, dos lazeres - a verdade da vida).

Sabe-se que o urbanismo unitário não tem fronteiras; pretende constituir uma unidade total do meio humano no qual as separações do tipo trabalho-lazer e coletivo-vida privada serão dissolvidas. Mas, antes, a ação mínima do urbanismo unitário é o terreno dos jogos estendido a todas as construções desejáveis. Esse terreno terá o grau de complexidade de uma cidade antiga.

6- Não se trata de combater o automóvel como um mal. Sua exagerada concentração nas cidadas é que leva à negação de sua função; É claro que o urbanismo não deve ignorar o automóvel, mas menos ainda aceitá-lo como tema central. Deve trabalhar para o seu enfraquecimento. Em todo caso, pode-se prever sua proibição dentro de certos conjuntos novos assim como em algumas cidades antigas.

7- Quem julga que o automóvel é eterno não pensa, até do mero ponto de vista técnico, nas futuras formas de transporte. Por exemplo, certos modelos de helicóptero individuais que estão agora sendo testados pelo exército dos Estados Unidos encontrar-se-ão ao alcance do público talvez daqui a menos de vinte anos.

8- A ruptura dialética do meio humano em favor dos automóveis (há projetos de aberturas de auto-estradas em Paris que acarretarão a destruição de milhares de moradias, equanto a crise habitacional se agrava cada vez mais) disfarça a própria irracionalidade sob explicações pseudopráticas. Mas sua verdadeira necesidade prática
corresponde a um determinado estado social. Os que julgam os dados do problema permanentes querem, de fato, crer na permanência da sociedade atual.

9- Os urbanistas revolucionários não se preocuparão apenas com a circulação das coisas, nem apenas com homens paralisados num mundo de coisas. Tentarão romper essas cadeias topológicas por meio de uma experimentação de terrenos, para que os homens transitem pela vida autêntica.

Guy-Ernest Debord
IS no. 3, dezembro de 1959

No livro:
Internacional Situacionaista
Apologia da Deriva - Escritos situacionistas sobre a cidade
Paola Berenstein Jacques (organização) / Ed. Casa da Palavra

[original em inglês]

[ensaio "introduction to a Critique of Urban Geography"]

(dica: Lourdes Zunino, Denir Miranda, Icaro Brito)

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segunda-feira, outubro 02, 2006

Isto não é um país


zona eleitoral: este carro estava dentro da lei

Talvez as fotos ajudem a explicar porque o deputado federal mais votado em São Paulo foi o construtor do Minhocão e suposto ladrão-maior, Paulo Maluf. Talvez ajudem a entender porque Fernando Collor (aquele) foi eleito senador, assim como José Sarney (que desta vez aplicou o truque de se candidatar pelo Amapá, e não pelo seu estado natal, o Maranhão).

Quem sabe as fotos tenham alguma relação com a cadeira na Câmara Federal conquistada pelo ex-apresentador Clodovil ou pelo ex-jurado de calouros Wagner Montes. Também podem ajudar a entender porque o forrozeiro Frank Aguiar, o "cãozinho dos teclados", também será representante do povo em Brasília.

Tá certo, nos livramos de figuras como Fleury, Medeiros, Professor Luizinho, Pitta, Turco Loco, Afanásio Jazzadi, Valentina Caran, Eurico Miranda e a própria Havanir dos bonecos de Olinda. Isso sem falar em candidatos como Seu Madruga, Amiguinho e Palhaço Pimpão.

Dia de eleição é a consagração da autocracia: para os motoristas, não há lei. Para o resto, não há transporte público nem tranquilidade nas calçadas.

Enquanto os condutores votavam, suas máquinas ocupavam faixas de pedestres, calçadas e pontos de ônibus, atrapalhando a vida de 70% dos votantes. Quem dependia do transporte público estava na merda: a frota em circulação era ridícula como nos outros domingos do ano. O dia era de "baixa demanda", ou seja, baixa possibilidade de lucro para aqueles que lucram com a usurpação de direitos.



Calçada ou estacionamento?



Pedestres confinados às sombras do tapume de obra



Além da pequena frota de ônibus em circluação, quem dependia do transporte público ainda teve que aguentar automóveis atrapalhando o embarque.



O mamute de quatro rodas acima não coube na calçada. Tudo bem, a primeira faixa da via é dedicada aos ônibus, então pode deixar aí mesmo...

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