domingo, abril 22, 2007

Bicicletário e esperança


(fotos: luddista / Edu Green)

No último sábado (21) a cidade de São Paulo deu mais um passo importante na propagação das bicicletas como meio de transporte urbano.

Foi inaugurado pelo governo do Estado o primeiro bicicletário em uma estação do Metrô, a simbólica Guilhermina-Esperança, na zona Leste da capital.

Parabéns aos responsáveis pela iniciativa, que conseguiram superar o discurso que limita o planejamento cicloviário à construção de ciclovias. Permitir o estacionamento de bicicletas e integrar os ciclistas ao transporte coletivo é extremamente pertinente em uma cidade do tamanho de São Paulo.

Ainda que a construção de ciclovias seja muito importante, especialmente em vias de fluxo intenso, um planejamento cicloviário decente vai muito além.

Favorecer o transporte por bicicletas não é apenas segregar o ciclista em seu deslocamento, até porque é impossível criar vias exclusivas na cidade inteira. As ciclovias devem estar conectadas com rotas cicloviárias e ciclofaixas, não deixando de lado a existência de locais para estacionamento e a integração com o transporte coletivo.

Favorecer o transporte por bicicletas também passa pela educação, inserindo o respeito a pedestres e ciclistas nos cursos de formação de condutores, desenvolvendo campanhas educativas permanentes e também punindo os infratores.

O Código de Trânsito diz que a bicicleta é um veículo como outro qualquer, com circulação preferencial nas vias sobre os demais veículos. Os motoristas devem reduzir a velocidade e manter distância lateral de 1,5m ao ultrapassar ciclistas.

Não existe, no entanto, nenhum registro de multa aplicada para esta infração e as justificativas não convencem. Também são raras, se não inexistentes, as multas aplicadas para quem ameaça ou desrespeita pedestres ou para quem não usa a seta ao fazer conversões.

Quando as infrações que visam proteger as pessoas começarem a fazer parte do cardápio dos agentes de trânsito, teremos ruas mais seguras para todos. Enquanto a prioridade for manter o "bom" andamento do fluxo motorizado, seguiremos acreditando que a solução é isolar a vítima, e não reduzir a ameaça.



Na manhã de sábado, cerca de 20 ciclistas partiram do bairro do Paraíso, com a esperança de que as iniciativas de promoção do uso da bicicleta e redução do uso do transporte motorizado individual sejam cada vez mais freqüentes.



O caminho escolhido foi um tanto insólito: a Radial Leste, principal eixo viário da região, é uma avenida de fluxo intenso, com ônibus, motos, caminhões e automóveis disputando espaço, fazendo barulho e soltando fumaça. Escolha mais adequada seria um caminho alternativo, como este, postado no Bikely.

Para enfrentar os motorizados, alguns Guardas Municipais em motocicletas fizeram a escolta dos ciclistas.



Viaduto no centro, em direção à zona Leste. Passar por aí de bicicleta, só com escolta e no final de semana. Repare na sujeira deixada no canto da pista: o fluxo de motorizados empurra todos os detritos para a sarjeta, local utilizado geralmente pelos ciclistas que se deslocam pela cidade.





Não levou muito tempo até o primeiro problema. Um parafuso na pista deixou um pneu furado. Graças à solidariedade de alguns dos participantes, a troca foi rápida e pudemos continuar.





Os retardatários, sem escolta motorizada, enfrentaram o trânsito da Radial por mais de 15 minutos até encontrar o resto da turma.



Alguns quilômetros depois, o segundo problema. Um motorista apressado não respeitou o ciclista que pedia para os motorizados esperarem o grupo passar e acelerou sua arma de quatro rodas para cima da bicicleta.







Enfim, ruas tranqüilas.



Acima, vereadora Soninha (com o governador José Serra ao fundo). Abaixo, secretário Eduardo Jorge. Dois grandes promotores da mobilidade sustentável em São Paulo.





Teresa D'Aprile, fundadora do grupo de pedalada feminino Saia na Noite, recebeu o cartão número 1 do bicicletário.



Estrutura adequada, gratuita e segura para mais de 100 bicicletas.



Na volta, pedalamos pelas horríveis calçadas da Radial Leste até um caminho por ruas mais tranqüilas. Veja um vídeo do Edu Green deste trecho do percurso.

As calçadas encontram-se em péssimo estado de conservação, com buracos, cacos de vidro e sujeira de todos os tipos. As faixas de pedestre estão distantes umas das outras (uma delas fica a mais de 1,5km do ponto de ônibus). Os tempos dos semáforos seguem a lógica paulistana: não atrapalhar o trânsito; ficam abertos durante alguns segundos para os pedestres e uma infinidade de tempo para os motorizados.





De volta às ruas tranqüilas. E o desrespeito ao cidadão, como sempre, visível em qualquer rua, em qualquer horário. Carros estacionados em frente ao ponto de ônibus atrapalham a visão e o embarque dos pedestres nos coletivos.



No Tatuapé, um paraciclo em uma academia de ginástica. A iniciativa privada começa a descobrir que o estacionamento de bicicletas é uma iniciativa viável e cidadã, que promove o transporte sustentável e economiza espaço.



[mais fotos aqui]

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Comments:
mais algumas fotos do dia: http://www.23hq.com/lilx/archive/taken/2007/4/21
 
uma bicicletada auto-gerida por caminhos alternativos ia ter sido mais bacana, né?

O que aconteceu no evento no Ka que entortou a roda traseira da bike? Na foto vejo apenas o coturno de um GM. Autuaram o cara? Vai pagar pelo preju?

Abraços! Zenga
 
Pessoal,
Sou ciclista e achei sensacional a lei que criou o Sistema Cicloviário do Município.

Acho que este evento nos mostrou que existe vontade política do prefeito e do governador para tirar esta lei do papel. Mostrou a nós ciclicitas que precisamos nos organizar e ocupar este espaço. Somente dezenas de ciclitas terem participado é uma pena! Fiquei sabendo somente na sexta-feira por email e não pude participar. Acredito que muitos não souberam e outros tantos, como eu, souberam em cima da hora e não puderam ir.

A imprensa não divulgou e (quase) não deu notícias do acontecimento.

Para que esta lei possa sair do papel nós ciclicitas precisamos divulgar, incentivar, apoiar e sair às ruas em massa para enventos como este.

Como podemos usar os meios que temos e criarmos uma rede de comunicação para atingir todos os ciclitas?

Blogs, email, pressão na imprensa, usar as lojas de bicicleta como referência, donos de lojas e fabricantes pressinando a impressa? Talvez tudo isto junto? Qual a melhor maneira?

Abraço e vida longa ao Sistema Cicloviário do Município.

Abraço

nbonadeu
 
Melhor um que nenhum, mas o bicicletário seria melhor se
não fossem penduradas as bicicletas. Mulheres, crianças e idosos com certeza terão dificuldade de usar a vaga. Uma política cicloviária requer não apenas estruturas, mas BOAS estruturas e obras. Muito já se falou das ciclovias abandonadas, porque mal projetadas e construídas... Do mesmo modo, há modelos e suportes mais adequados para bicicletários. Não basta fazer qualquer coisa, tem que fazer a coisa mais adequada.
 
Estão criando um bicicletário destes também na estação Pinheiros da CPTM!
 
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