segunda-feira, janeiro 22, 2007

Três mortes distintas



Na semana do aniversário de São Paulo, vale lembrar a história da recente política de "revitalização" implantada na região central pelo (sub) prefeito Andrea Matarazzo. Consiste essencialmente em adequar a região para consumidores e investidores privados. Até aí, tudo bem. O problema é quando esta política pressupõe varrer a vida que já existe na região ("suja", "maltrapilha" e com sotaque diferente). Saem de cena os cidadãos, entram os consumidores. Saem os camelôs, entram os carros.

Uma das frentes deste processo é o fechamento dos calçadões, criados na década de 70 como espaço agradável de convivência e circulação de pessoas. A mídia corporativa reproduz o discurso oficial divulgando a inciativa como "abertura", deixando claro qual é o ponto de vista que orienta a escolha do termo, a divulgação da informação e a implementação da política.

"Abrir" um calçadão significa transformar um espaço urbano em local adequado para pedestres. "Fechar" um calçadão é exterminá-lo, é abocanhar mais um espaço público para a lógica de circulação e estacionamento dos carros.

E assim o espaço urbano se transforma em um local de barulho, congestionamento e poluição, com manobrista no local, onde quem tem carro acessa lojas, cinemas, centros culturais e até farmácias sem perceber que está no Brasil, onde existem camelôs, moradores de rua, crianças abandonadas e até criminalidade.

A primeira experiência de assassinato dos calçadões aconteceu nas ruas D. José Gaspar e 24 de Maio no aniversário de 452 anos da capital, em 2006. O "presente" foi uma malha de asfalto preto cobrindo as pedras portuguesas e a diminuição pela metade do espaço livre de atropelamento, buzina, barulho ou fumaça.

Como o asfalto foi colocado sobre o antigo calçamento, em dias de chuva toda a água escorre para as laterais, ou seja, para o espaço destinado aos pedestres.

O segundo homicídio aconteceu de forma menos porca que o primeiro. Na rua XV de novembro, um dos calçadões mais movimentados da região, não houve asfalto preto, mas apenas a delimitação de um espaço de circulação para os veículos e a instalação de sinalização de trânsito.

Desta vez a inovação foi a criação surealista da primeira "praça de mão única" do mundo, a Manoel da Nobrega. Só na capital do congestionamento...



O último dos três fechamentos aconteceu na rua Florêncio de Abreu, ao lado do Mosteiro de São Bento. Em vez de construir um calçadão que ligasse o mosteiro ao Mercado Municipal, a prefeitura optou por incorporar barulho e a poluição às meditações monásticas e ao contidiano dos transeuntes.

E assim segue a "revitalização do centro", jogando a "sujeira" humana pra baixo do tapete e abrindo espaço para a sujeira motorizada.


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Comments:
ahn?
que bela renovação...
 
só uma obs. acho que o 1o. fechamento foi de um 'quase calçadão', o da r.7 de abril. A rua era asfaltada, mas era dos pedestres, pois havia uma guarita da CET na entrada da rua que limitava o trânsito a carga/descarga e taxis. A prefeitura resolveu tomar a rua dos pedestres.

Há uma grande empresa de telemkt na 7 de abril (os "incentivos" levaram diversas empresas de telemkt ao centro), os mtos funcionários, entre um turno e outro, ficam esmagados nas novas calçadas emendadas e os carros livres.

Na época, acho que 2005, havia uma faixa da 'porto seguro' por lá, patrocinadora da idéia.
 
O galera, calma... de repente essa é a forma de "Espaço Compartilhado", que nossas autoridades têm em mente, horas..rsrsr
Não sei se digo "simplesmente o cumulo", pois já to vendo a hora que dentro da área de rodízio, será necessário fechar ao trânsito de veículos com menos de três pessoas ... e instituir o rodízio no resto da cidade.
Alguém sabe do andamento do projeto da nova pista plagiada das marginais?? Será que novamente perderemos o pouco de verde que essa cidade ainda conserva???
 
http://www.agenciabrasil.gov.br/media/imagens/2007/01/21/1300RP008.jpg/view

Veja a que ponto chegamos... Isso por aqui...
 
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