terça-feira, janeiro 31, 2006

Rodízio: o paliativo que virou política

O rodízio municipal está de volta à São Paulo depois de 35 dias de "férias". Criada em 1997, a restrição à circulação de veículos em boa parte da cidade perde eficiência a cada ano que passa.

Segundo a CET, a média de congestionamentos de janeiro aumentou 12% em relação ao mesmo mês de 2005. No ano passado, no período da manhã, a média era de 84km de congestionamento. Neste ano subiu para 100km.

Será que ninguém enxerga o óbvio? O rodízio é uma medida paliativa, extrema, que acabou virando política pública em São Paulo. Todo paliativo usado sozinho e em excesso causa dependência e agrava o quadro do "doente": hoje a cidade não vive sem o rodízio, mas seus habitantes agonizam no trânsito que é muito pior do que em 1997.

O engraçado é ver engenheiros da CET e jornalistas buscando razões para explicar o que é óbvio. Justifica-se o trânsito com chuva, acidentes de carretas na marginal, feriados que levam multidões para as estradas ou às compras...

A causa do trânsito que paralisa a cidade e destrói a qualidade de vida é o excesso de veículos combinado com políticas públicas voltadas exclusivamente para o transporte individual motorizado. O resto é procurar pêlo em ovo.

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segunda-feira, janeiro 30, 2006

Fotos - "On your bike"



Sérvia, 1965, pelas lentes do mestre Henri Cartier-Bresson.

Essa e outras 59 fotos da exposição virtual "On your bike" podem ser conferidas no site da Magnum Photos.

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Oração do ciclista urbano

Pai nosso que estás na Holanda,
Bicicletário seja o teu nome.
Venha a nós as tuas ciclofaixas,
seja feita a tua rota segura
assim na pista como na calçada.
O pedal nosso de cada dia nos dá hoje.
Perdoa-nos nossas contramãos,
assim como nós perdoamos os motoristas que nos tem massacrado.
E não nos deixeis cair nos bueiros,
mas livra-nos das vans e dos ônibus,
pois teu é o paralama, o bagageiro e a campainha
para sempre.
Amém.

(por Sérgio Tourino. Mais em www.bicicletanavia.cjb.net)

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domingo, janeiro 29, 2006

Veja Mente - desassine


(foto: CMI)

A foto acima é da rampa anti-gente, construída pela prefeitura para impedir a permanência de seres humanos no local. Na madrugada do dia 24, a bizarra obra da arquitetura do medo virou anti-propaganda: "Veja - desassine". A ação de repúdio à publicação da Editora Abril também aconteceu em outros locais da cidade.

A Veja é porta-voz da política higiênico-especulativa em curso nas regiões centrais, destinada à garantir os lucros e o bem-estar de uma minoria que não quer ver a miséria nem da janela do carro. "Limpe os pobres, mande-os para a periferia": a distância e o transporte público que só funciona para levá-los ao trabalho se encarregam de manter a cidade "segura e bonita" para quem tem dinheiro e um automóvel.

A "revista" ainda se destaca pelo uso de linguagem preconceituosa e pela manipulação indiscriminada de fatos e informações. Leia este trecho de "reportagem" sobre o padre Júlio Lancelotti e tire suas conclusões.

A rampa anti-gente é o nosso muro da vergonha em Tijuana, a nossa barreira israelense, a nossa cerca de Varsóvia: do medo que ergue fortalezas ao facismo que constrói campos de concentração é um passo muitas vezes curto, imperceptível.

O colega José Chrispiniano, autor do boletim Veja Q Porcaria indica dois textos: 1) um manifesto de repúdio da Abong em relação à matéria "A solução é derrubar", 2) um texto de Fernando Altemeyer Júnior, professor da PUC-SP. Eu indico o boletim, que pode ser assinado pelo e-mail vejaqporcaria@yahoo.com.

Também vale dar uma olhada sempre no blog integração sem posse.

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quinta-feira, janeiro 26, 2006

sexta: Bicicletadas em Curitiba e São Paulo



Meio em cima da hora, mas vai a divulgação das duas Bicicletadas que acontecem pelo Brasil nesta sexta-feira (27):

Em Curitiba, a terceira edição da Bicicletada tem encontro marcado para as 17h, no pátio da reitoria da UFPR. Veja aqui como foi a última edição.

Em São Paulo, chegamos à 40a edição da Bicicletada. Como sempre, o encontro é no finalzinho da Paulista (quase esquina com a Consolação), às 18h. Veja aqui como foi a última edição.

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quarta-feira, janeiro 25, 2006

"Presenteia os ricos, cospe nos pobres"



A frase acima é do clássico "Papai noel, velho batuta", da banda punk Garotos Podres, mas poderia ser dedicada aos resposnáveis pela "revitalização" do centro de São Paulo.

O presente aos ricos chega no aniversário da cidade, junto com o cuspe nos pobres: Hoje (25) será extinto o primeiro calçadão da região central, nas ruas Dom José Gaspar e 24 de maio.

O projeto de acabar com os calçadões do centro tem como objetivo atrair consumidores motorizados, que geralmente tem medo até da própria sombra, e expulsar camelôs, "mendigos", "pivetes", desempregados e pobres em geral.

Afinal, quem frequenta centros culturais bacanas e bares da moda não é obrigado a conviver com a miséria que insiste em ficar na região central. Melhor fechar os olhos e os vidros, colocar um bom alarme para incomodar os vizinhos na madrugada e aplaudir a eficiência da polícia paulista, o "robocop" que mais mata cidadãos sem antecedentes criminais no Brasil.

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terça-feira, janeiro 24, 2006

A culpa é do Juscelino


(Jorge Santos/oeste notícias)

Um terrível acidente na Rodovia Raposo tavares matou mais de 30 passageiros que viajavam em dois ônibus na noite de domingo.

Enquanto a polícia investiga as causas do acidente, fica a pergunta: será que alguém considera normal que a maioria das viagens em um país do tamanho do Brasil seja feita em rodovias? E mais: em rodovias de mão dupla?

Será que as ferrovias e hidrovias (por natureza mais seguras que as estradas) servem apenas para transportar grãos e minérios para exportação? É incrível, mas o Brasil, país de dimensões continentais, tem hoje uma malha ferroviária muito menor do que há 50 anos. Não é possível viajar de trem nem entre São Paulo e Rio de Janeiro, onde até a lógica de mercado e lucro justificaria o investimento.

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Diários do Lebronx III - Havana é aqui

O Rio de Janeiro é muito (mas muito) parecido com a capital cubana, Havana. Construções belíssimas caindo aos pedaços, prostituição na orla, povo alegre, festeiro e simpático, áreas "exclusivas" para turistas, muito calor no verão, música de primeira qualidade, paisagens belíssimas, mulheres e (porque não) homens maravilhosos... E o principal: nas duas cidades existem mundos paralelos: o oficial, das leis e regras, e o paralelo, da malandragem e do jeitinho. Não é necessário conhecer Havana nem o Rio de Janeiro para imaginar qual o mundo "real" das duas cidades.

Em linhas gerais, as diferenças:
- em Havana o desemprego é mais democrático e a miséria é mais distribuída; lá todo mundo vive na merda, ninguém é tão rico nem tão pobre quanto no Rio;
- em Havana não há analfabetismo nem mortos por falta de tratamento médico;
- no Rio o tráfico é de cocaína; em Havana, de charutos;
- em Havana, a forma de distribuir a renda é a malandragem para extorquir alguns dólares dos turistas, não a arma na cabeça apontada por uma criança de 12 anos como nas ruas cariocas;

A inspiração para estes comentários veio do trajeto Rodoviária-Leblon, feito em um ônibus de linha, e de duas frases desta reportagem do Jornal do Brasil: "Cuba é Madureira (subúrbio carioca) no poder" e "os cubanos são cariocas ao quadrado".

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sexta-feira, janeiro 20, 2006

Diários do Lebronx II

As calçadas do Leblon (e do resto da zona sul) são largas, muito largas. Construção do tempo em que os prédios não tinham grades e o mar não era habitado por algas mutantes criadas no esgoto.

Algumas calçadas abrigam ciclovias, outras são ocupadas por carros estacionados. Existe um terceiro tipo, predominante na arquitetura urbana: ferros fincados no chão, mini-barricadas de concreto, vasos de plantas e canteiros dispersos estrategicamente para impedir o acesso dos motorizados. Pedestre anda em zigue-zague e às vezes tem que se espremer ou caminhar pela rua.

As ciclovias permitem pequenos trajetos de bicicleta, o que é fantástico. Quem mora na "ilha sul" faz muita coisa à pé ou de bicicleta. Nos bairros ricos de São Paulo, o sujeito vai de carro até a esquina. Além do medo, comum nos dois lados da ponte aérea, o uso do carro pelos paulistanos é facilitado pela imensa área urbana abocanhada pelos mais de 9 mil estacionamentos particulares e pelas vagas grátis nas ruas largas de calçadas estreitas. Até padaria e banca de jornal têm estacionamento na terra da garoa.

Nas duas cidades, a política de estacionamento acaba sendo a mesma: acomodar os carros no espaço existente. Em São Paulo, a especulação imobiliária expandiu a cidade, mandou os pobres para longe, construiu fortalezas de 20 andares para os ricos e destruiu quarteirões de casas para dar lugar a estacionamentos.

No Rio, os prédios baixos construídos no início do século passado não deixaram espaço para o exagero que é a cultura do "1 carro por pessoa". Demolir uma casa de 1910 é aceitável. Demolir um prédio da mesma idade é mais chocante, caro e trabalhoso; não pega bem, ainda mais em uma cidade que vende a beleza para sobreviver. Em São Paulo, Malufs, Adhemares e comparsas fizeram fortunas com planos urbanísiticos voltados para o automóvel. No Rio a política é a "tolerância mil, educação zero".

Além das largas calçadas do Leblon e das faixas de pedestre, os carros também têm suas vagas "normais". Só que em quase todas as ruas e horários do dia existe um parquímetro humano, ou melhor, um morador dos bairros pobres trabalhando como guardador de carro. Aqui eles são chamados de flanelinhas e são oficiais. Existe um programa municipal chamado Vaga Certa, mistura de assistencialismo, absorção de tensões sociais, educação e engenharia de trânsito.

O Vaga Certa funciona como uma espécie de pegádio urbano implícito, uma "parceria" entre o Estado e a Economia Informal S.A.: o motorista é obrigado a comprar um cartão para estacionar, como na Zona Azul paulistana ou nos parquímetros americanos. Em algumas ruas, o cartão é válido por um período determinado, mas pode ser reutilizado em outras vagas no mesmo dia. Ou seja, para tirar o carro de casa, o motorista da zona sul é obrigado a gastar dinheiro com estacionamento.

Calma paulistano, o caráter oficial do Vaga Certa não é a panáceia para a extorsão praticada pelos guardadores: em locais de alto movimento e pouca polícia (geralmente "acertados" entre as autoridades e a Economia Informal), o preço escapa da tabela oficial e continua valendo a lei do "pague pela proteção do seu patrimônio".

O caráter educativo fica só no nome: "motorista, esta é a vaga certa". Mas já que o estacionamento nas calçadas não exige cartão e raramente termina em multa, as vagas nos locais de pedestres são as mais cobiçadas. E tome barricada de concreto para impedir a fome dos automóveis por espaço.

PS: Como não estou de carro no Rio, não sabia que o programa Vaga Certa sofreu alguns pequenos ajustes nos últimos . O principal, no entanto, foi a mudança de nome: hoje chama-se Rio Rotativo.

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quinta-feira, janeiro 19, 2006

Diários do Lebronx I

Correria no posto 9, Ipanema, praia badalada da juventude bem-nascida e majoritariamente branca do Rio de Janeiro. É começo de noite. "Arrastão", alguém grita. Uma onda de gente se levanta e corre. Uma amiga jornalista diz: "vamos lá, geralmente não é nada. Se for, eu preciso cobrir".

Junto com a massa em pânico (ou, ao menos, precavida) passa um homem com a cabeça sangrando. Perto do mar, três policiais em quadriciclos motorizados seguram um rapaz. Duas meninas insistem que o rapaz não tinha nada a ver com a confusão.

Dois "parentes de barraqueiros" (como eles se identificaram) chegam dizendo: "Foi aquele ali? Aquele escurinho que roubou teu celular?" e partem para cima do rapaz. Um policial impede a agressão. Clima tenso no ar, os dois homens que tentavam agredir o rapaz detido confirmam aos policiais que o "escurinho" tava "envolvido". Ele teria participado de um grupo que simulou uma briga para causar o pânico e fazer o arrastão, usando inclusive os guarda-sóis como arma. Os barraqueiros teriam se revoltado e partido para cima dos supostos asssaltantes.

O "escurinho" é levado embora da praia pelos policiais, também negros, que não confirmam nem negam que ele esteja detido. A história não ficou clara, não se sabe se foi briga entre gangues ou arrastão. Mesmo assim, duas horas depois da confusão, três veículos da polícia permaneciam estacionados em uma das pistas da Delfim Moreira (a avenida da praia), atrapalhando o trânsito de quem não mora perto da praia. No dia seguinte, notícias nos jornais, medo na "ilha da fantasia" (a rica Zona Sul da cidade).

Ler o jornal na praia é hábito dos cariocas. Deixá-lo na areia também, junto com milhares de garrafas, latas, canudos, bitucas de cigarro, cocos, sacos plásticos e tudo que foi consumido ao longo do dia. Quando a praia esvazia, a cena é deprimente: um verdadeiro lixão a céu aberto. Tudo bem, a operação limpeza é muito eficiente e na mesma noite tudo está limpo, pronto para ser sujado de novo no dia seguinte. Tem até reciclagem de latinhas, feita de forma "solidária" pelos moradores de subúrbios e favelas que não conseguiram um emprego de gari oficial.

E assim, com muita polícia nos bairros nobres, lixeiros eficientes na praia e alguma confusão para animar o fim de tarde, o Rio de Janeiro continua lindo...

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sexta-feira, janeiro 13, 2006

O Rio de Janeiro...

... continua lindo. Hoje, do Arpoador, vi o sol se por no mar e a lua cheia nascer nas montanhas.

Mas fica sempre a dúvida:
- como uma cidade com tantas ciclovias e bicicletas tem tantos carros estacionados em cima de calçadas, faixas de pedestres e em fila dupla?
- como uma cidade com uma paisagem tão maravilhosa pode ter motoristas tão estúpidos e apressados?

Pois é... Brasil: deus deu, o povo fodeu.

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Quando o petróleo acabar


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quinta-feira, janeiro 12, 2006

Tudo pela metade


(clique na imagem para ampliá-la)

A faixa acima, apócrifa, tem irmãs gêmeas por toda a cidade. As faixas de agradecimento são colocadas muito antes das faixas de pedestre. No caso da rua Cincinato Braga, a pintura da sinalização aconteceu cerca de um mês depois do novo asfalto.

O "programa de recapeamento asfáltico" pretende renovar o piso de 165 vias. Até agora, 125 pontos já tiveram o piso renovado, mas apenas 22 ganharam a nova pintura. O presidente da CET atribuiu a demora na realização da pintura às chuvas... Ou seja, para trocar o asfalto não tem chuva que atrapalhe. Já para pintar algumas faixas... Ora, ora, conte outra, seu Scaringella...

O artigo 88 do Código de Trânsito Brasileiro diz que "nenhuma via poderá ser reaberta se não estiver devidamente sinalizada". Scaringella declarou que "uma coisa é a letra da lei, e a outra o espírito. Não podemos bloquear o trânsito para as obras". Bloquear o trânsito, não pode; mas bloquear a passagem de pedestres não tem problema...

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quarta-feira, janeiro 11, 2006

zoológico siliconado


(clique na imagem para ampliá-la)

"Sabe aquela vida que você pediu a deus? Ligando fica mais fácil dele atender", diz a chamada da propaganda estampada em revistas no ano passado. Na cara da loira está escrito "cole aqui a sua foto".

Substitua "vida" por "aparência" e as portas da fama, do sucesso e da riqueza estarão abertas para você.

Não importa se você tem peito pequeno, barriga grande, pele negra ou cabelo crespo: bastam alguns trocados numa ligação telefônica para que deus transforme a sua vida. "Cole aqui a sua foto", dê dinheiro para a Telemar e se torne um habitante do zoológico televisivo chamado Big Brother.

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terça-feira, janeiro 10, 2006

Quem sai e quem entra



Já está tudo pronto para que sejam sepultados os dois primeiros calçadões do centro, nas ruas 24 de maio e D. José de Barros. Falta só coragem para inaugurar a obra, que pretende atrair consumidores motorizados e reduzir o espaço destinado aos pedestres.

A foto acima foi tirada em um sábado do ano passado. Apesar de ilegal, o tráfego de veículos nos calçadões é tolerado pelas autoridades. A imagem ilustra bem os objetivos do processo de "revitalização do centro" que está em curso. Não sei direito quem consegue enxergar vida em máquinas queimadoras de petróleo e especulação imobiliária, mas tudo bem...

A Veja ("revista americana escrita em português", como disse Mylton Severiano) publicou recentemente uma matéria sobre as transformações que a prefeitura está implantando na região.

O amigo e jornalista José Chrispiniano é autor de um excelente boletim semanal chamado "Veja Q Porcaria", uma análise da pior publicação mais vendida do país. Reproduzo abaixo um trecho da primeira edição de 2006. Para receber o boletim no seu e-mail, escreva para vejaqporcaria@yahoo.com.

- Camila Antunes assina uma inacreditável peça sob o chapéu de “urbanismo”(sic) sobre a “revitalização” (sic de novo) do centro de São Paulo, que Andréa Matarazo e José Serra pretendem implantar. A matéria chama os pobres de “horda”, e o padre Júlio Lancelotti de “demagogo”. Por critérios persecutórios como esse poderia chamar a assinante da matéria de “canalha”, ou “besta preconceituosa”. Veja bem, um sujeito que enfrenta todos os preconceitos, abnegado, que tem um trabalho inacreditável com os moradores de rua, que cuida de crianças aidéticas desde quando a doença tinha um estigma terrível, e defende seus pontos de vista, é considerado demagogo porque sua igreja tem cerca elétrica (para proteger o patrimônio da própria igreja)? O que raios se quer dizer com isso, e coisas como “atenção, papa Bento XVI”? A matéria(sic) obedece aos preconceitos do Sr. Andréa Matarazzo, que chama a região da cracolândia de um “antro que atrapalha o funcionamento da cidade”.

- O texto de Antunes não entende a chamada decadência do centro e a dinâmica do mercado imobiliário (que abandonou o centro por questões de infra-estrutura e mais que isso, especulação imobiliária). Diz que os calçadões dificultaram o acesso ao centro, quando são os próprios que fazem ser viável o comércio popular imenso que ali existe. É um absurdo dizer que as 400 famílias sem-teto instaladas em imóveis recuperados em programas de arrendamento “enterram de uma vez a possibilidade de recuperar a economia da região”. Visite os prédios e seu entorno,Camila. A matéria acha que região “revitalizada” é onde os pobres não estão, não crê em bairros onde convivam classes e usos diferentes. O centro é a região realmente viva de São Paulo. Com seus problemas e com tudo aquilo que a classe média acha feio, mas viva de verdade. Muito mais viva, diversa, real e interessante que a região da Faria Lima e Berrini.

- “Um dos objetivos da demolição de parte do centro de São Paulo é reavivar a idéia de espaço público”. Nada disso. Pelo que a própria matéria diz, dá para notar que a prefeitura vai “varrer a horda”, e abrir um balcão de negócios imobiliários sobre o novo centro, privatizando os terrenos, coisa que os tucanos, Matarazzo por exemplo, que não é demagogo porque mora em uma mansão de segurança máxima no Morumbi, sabe muito bem fazer.

- A legenda da foto mostra o nível de imbecilidade de Camila Antunes, Mario Sabino e Cia. Tem a foto de moradores na paulista e a pergunta: “por que o padre não vai morar lá?”. Agora, parece que é bonito este tipo de perseguição.

* PS: passando pela banca de jornais, vi o enxame de capas a respeito de Juscelino Kubitschek. E ainda tem gente que acredita que a televisão é apenas um veículo de informação e entretenimento, que serve para dar destaque aos acontecimentos importantes da sociedade. A TV brasileira, como diz Eugênio Bucci, faz exatamente o caminho inverso: é ela quem pauta as discussões, os rumos e o humor da nação. Se a estréia de uma minissérie é capa de duas das quatro revistas semanais de informação, imagine o peso do Jornal Nacional.

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segunda-feira, janeiro 09, 2006

lembranças do mar azul


(foto: Daniel Mantovani)

Pouco mais de dez dias sem carros, celulares, computadores, televisão ou água quente. Alma lavada, baterias recarregadas e uma leve dúvida sobre quais seres humanos vivem na selva: os paulistanos ou a comunidade de Ponta Negra (praia na reserva da Joatinga, península entre Trindade e Parati).

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