segunda-feira, julho 16, 2007

Vrijheid, Gelijkheid en Broederschap


(bicicletas do Véliv em Paris / foto: Malias)

Quatro décadas depois do subversivo Plano das Bicicletas Brancas mostrar que alguns problemas só existem porque poucos lucram muito com os transtornos de todos, a idéia de espalhar bicicletas de uso público pelas cidades começa a virar lugar comum na Europa.

No último domingo (15), entrou em funcionamento na capital francesa o Vélib, um serviço de bicicletas de uso público. São 10.600 veículos a propulsão humana espalhados em 750 pontos de Paris. Até o final do ano, serão 20 mil magrelas em 1451 locais.

Pode ser coincidência, mas a meta do sistema parisiense é a mesma reivindicada pelos holandeses do Provos há mais de 40 anos. Três anos antes de Paris viver o efervescente maio de 68, o coletivo provocativo de Amsterdam bagunçou as mentes conservadoras ao sugerir que as autoridades comprassem 20 mil bicicletas por ano e as disponibilizassem para o uso de todos os cidadãos.

"A idéia era que estivessem permanentemente disponíveis nas ruas para uso gratuito do cidadão comum, e que este as deixasse para o usuário seguinte quando cumprisse seu trajeto.

O plano foi copiado, com sucesso, ao redor do mundo: Estocolmo, Oxford, Berkeley. Em Amsterdam, os próprios Provos espalharam bicicletas pela cidade, e simpatizantes da causa começaram a levar as suas para serem pintadas de branco nas reuniões semanais.

Os policiais confiscaram as bicicletas comunitárias com a ridícula justificativa de que, como não tinham dono, representavam um estímulo ao roubo; e começaram a reprimir os encontros da Spui com progressiva violência, transformando-os em choques em praça pública." (Ari Almeida, no MountainBikeBH)



(bloco na rua durante happening do Provos em Amsterdam / foto: IISH)

O Plano das Bicicletas Brancas, considerado utópico e ameaçador, inspirou músicos, artistas, movimentos e pessoas ao redor do planeta, inclusive adminstradores públicos e homens de negócio.

Para usar o Vélib francês, o cidadão paga 29 euros por ano, além de deixar uma franquia de 150 euros. Existem opções de planos semanais (5 euros) ou diários (1 euro). A bicicleta tem selim ajustável e cesta para o transporte de objetos, mas seu peso excessivo (22,4kg) despertou algumas críticas.

Ao contrário da propriedade coletiva (ou da não-propriedade) das bicicletas brancas, o Vélib é gerenciado por uma corporação transnacional: a J.C. Decaux, que divide o controle do mobiliário urbano em boa parte das grandes cidades ocidentais com a estadunidense ClearChannel.

O contrato de 10 anos firmado com a prefeitura de Paris prevê que a empresa terá direito de continuar explorando (além do aluguel de bicicletas) a publicidade em 1628 pontos da cidade.

Outro ítem que não entraria no Plano das Bicicletas Brancas é o limite de 30 minutos para cada viagem no Vélib. Ao final deste prazo, se o usuário não tiver devolvido a bicicleta, começa a pagar uma taxa extra (1 euro pela primeira hora, 2 pela segunda e 4 a partir da quarta hora).

Afinal, nestes tempos em que o marketing é "de guerrilha", os automóveis se chamam Eco e água virou refrigerante de auto-ajuda, investir uma porcentagem ínfima do orçamento na compra e distribuição de bicicletas pelas cidades e dizer que elas pertencem a todos continua sendo subversivo e utópico.

A implantação das bicicletas de uso público em Paris é apenas mais uma etapa da longa batalha empreendida pelo resgate do espaço e dos recursos roubados pelos automóveis na capital francesa, que nos últimos anos criou sérias restrições ao estacionamento e ao tráfego de veículos, abriu calçadões (para as pessoas, não para os carros), construiu corredores de ônibus e mais de 300km de ciclovias e ciclofaixas no espaço antes destinado aos automóveis.

A iniciativa parisiense das bicicletas públicas é significativa e mostra que grandes interesses econômicos devem estar condicionados aos anseios das sociedades; não o contrário, como é praxe nas sociedades periféricas.


(ciclofaixa em Paris / Mathias Fingerman)

[notícia no Panóptico - com vários links]

[notícia no blog da Transporte Ativo]

[notícia sobre o Vélib - espanhol]

[notícia sobre o Vélib - BBC Brasil - com vídeo]

[Vélib]

[sobre a vitória da concorrência pela J.C. Decaux - francês]

[sobre a vitória da concorrência pela J.C. Decaux - espanhol]

[Provos - "A contrcultura é laranja fluorecente"]

[Provos - Wikipedia]

[O uso político da bicicleta]

[Bicicleta e tempo de contestação]

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Comments:
Caro Luddista,
Legal vc mostrar o Velib e 'cutucar' ai nossos amigos paulistanos para repensarem a cidade!

Veja que o custo do Velib é 29€/ano e não por mês como dito no seu post.
A idéia do Velib é disponibilizar bicicletas para as pessoas se locomoverem em Paris, e por isso a tarificaçao incentiva que se devolva a bike em 30 minutos, para que outro possa usa-la, o que é razoavel, afinal, 30min é tempo suficiente para atravessar meia Paris (que tem 10Km de diâmetro!).
 
Ei Luddista!

Foi mal... achei que aqui tinha gravado meu endereço...

www.arnoud.blogger.com.br

Abraços!
 
Sobre o post, muito boa a contextualização histórica.

Não sei se a idéia de “bicicletas para todos” já foi tentada alguma vez. Talvez na China. De qualquer forma, creio que um dos motivos para que o tempo limite seja de 30 minutos(além de gerar renda para a empresa que administra o sistema) é fazer com que as bicicletas sejam mesmo um mobiliário urbano. Ou seja, a pessoa pega uma bicicleta faz um percurso, deixa a bicicleta para outro usuário, no seu próximo percurso usará outra bicicleta, assim por diante.

Enfim, é mais uma pedalada... :-)
 
Você vai gostar desse artigo: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult508u310578.shtml
 
Alisson, obrigado pela correção. Desatenção minha e coloquei 29 euros por mês. Já tá corrigido.
 
Estou em Paris e vejo que esta funcionando...
Estou tirando umas fotos e depois te envio...

Abs
 
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