Quatro décadas depois do subversivo Plano das Bicicletas Brancas mostrar que alguns problemas só existem porque poucos lucram muito com os transtornos de todos, a idéia de espalhar bicicletas de uso público pelas cidades começa a virar lugar comum na Europa.
No último domingo (15), entrou em funcionamento na capital francesa o Vélib, um serviço de bicicletas de uso público. São 10.600 veículos a propulsão humana espalhados em 750 pontos de Paris. Até o final do ano, serão 20 mil magrelas em 1451 locais.
Pode ser coincidência, mas a meta do sistema parisiense é a mesma reivindicada pelos holandeses do Provos há mais de 40 anos. Três anos antes de Paris viver o efervescente maio de 68, o coletivo provocativo de Amsterdam bagunçou as mentes conservadoras ao sugerir que as autoridades comprassem 20 mil bicicletas por ano e as disponibilizassem para o uso de todos os cidadãos.
"A idéia era que estivessem permanentemente disponíveis nas ruas para uso gratuito do cidadão comum, e que este as deixasse para o usuário seguinte quando cumprisse seu trajeto.
O plano foi copiado, com sucesso, ao redor do mundo: Estocolmo, Oxford, Berkeley. Em Amsterdam, os próprios Provos espalharam bicicletas pela cidade, e simpatizantes da causa começaram a levar as suas para serem pintadas de branco nas reuniões semanais.
Os policiais confiscaram as bicicletas comunitárias com a ridícula justificativa de que, como não tinham dono, representavam um estímulo ao roubo; e começaram a reprimir os encontros da Spui com progressiva violência, transformando-os em choques em praça pública." (Ari Almeida, no MountainBikeBH)
No último domingo (15), entrou em funcionamento na capital francesa o Vélib, um serviço de bicicletas de uso público. São 10.600 veículos a propulsão humana espalhados em 750 pontos de Paris. Até o final do ano, serão 20 mil magrelas em 1451 locais.
Pode ser coincidência, mas a meta do sistema parisiense é a mesma reivindicada pelos holandeses do Provos há mais de 40 anos. Três anos antes de Paris viver o efervescente maio de 68, o coletivo provocativo de Amsterdam bagunçou as mentes conservadoras ao sugerir que as autoridades comprassem 20 mil bicicletas por ano e as disponibilizassem para o uso de todos os cidadãos.
"A idéia era que estivessem permanentemente disponíveis nas ruas para uso gratuito do cidadão comum, e que este as deixasse para o usuário seguinte quando cumprisse seu trajeto.
O plano foi copiado, com sucesso, ao redor do mundo: Estocolmo, Oxford, Berkeley. Em Amsterdam, os próprios Provos espalharam bicicletas pela cidade, e simpatizantes da causa começaram a levar as suas para serem pintadas de branco nas reuniões semanais.
Os policiais confiscaram as bicicletas comunitárias com a ridícula justificativa de que, como não tinham dono, representavam um estímulo ao roubo; e começaram a reprimir os encontros da Spui com progressiva violência, transformando-os em choques em praça pública." (Ari Almeida, no MountainBikeBH)
(bloco na rua durante happening do Provos em Amsterdam / foto: IISH)
O Plano das Bicicletas Brancas, considerado utópico e ameaçador, inspirou músicos, artistas, movimentos e pessoas ao redor do planeta, inclusive adminstradores públicos e homens de negócio.
Para usar o Vélib francês, o cidadão paga 29 euros por ano, além de deixar uma franquia de 150 euros. Existem opções de planos semanais (5 euros) ou diários (1 euro). A bicicleta tem selim ajustável e cesta para o transporte de objetos, mas seu peso excessivo (22,4kg) despertou algumas críticas.
Ao contrário da propriedade coletiva (ou da não-propriedade) das bicicletas brancas, o Vélib é gerenciado por uma corporação transnacional: a J.C. Decaux, que divide o controle do mobiliário urbano em boa parte das grandes cidades ocidentais com a estadunidense ClearChannel.
O contrato de 10 anos firmado com a prefeitura de Paris prevê que a empresa terá direito de continuar explorando (além do aluguel de bicicletas) a publicidade em 1628 pontos da cidade.
Outro ítem que não entraria no Plano das Bicicletas Brancas é o limite de 30 minutos para cada viagem no Vélib. Ao final deste prazo, se o usuário não tiver devolvido a bicicleta, começa a pagar uma taxa extra (1 euro pela primeira hora, 2 pela segunda e 4 a partir da quarta hora).
Afinal, nestes tempos em que o marketing é "de guerrilha", os automóveis se chamam Eco e água virou refrigerante de auto-ajuda, investir uma porcentagem ínfima do orçamento na compra e distribuição de bicicletas pelas cidades e dizer que elas pertencem a todos continua sendo subversivo e utópico.
A implantação das bicicletas de uso público em Paris é apenas mais uma etapa da longa batalha empreendida pelo resgate do espaço e dos recursos roubados pelos automóveis na capital francesa, que nos últimos anos criou sérias restrições ao estacionamento e ao tráfego de veículos, abriu calçadões (para as pessoas, não para os carros), construiu corredores de ônibus e mais de 300km de ciclovias e ciclofaixas no espaço antes destinado aos automóveis.
A iniciativa parisiense das bicicletas públicas é significativa e mostra que grandes interesses econômicos devem estar condicionados aos anseios das sociedades; não o contrário, como é praxe nas sociedades periféricas.
Para usar o Vélib francês, o cidadão paga 29 euros por ano, além de deixar uma franquia de 150 euros. Existem opções de planos semanais (5 euros) ou diários (1 euro). A bicicleta tem selim ajustável e cesta para o transporte de objetos, mas seu peso excessivo (22,4kg) despertou algumas críticas.
Ao contrário da propriedade coletiva (ou da não-propriedade) das bicicletas brancas, o Vélib é gerenciado por uma corporação transnacional: a J.C. Decaux, que divide o controle do mobiliário urbano em boa parte das grandes cidades ocidentais com a estadunidense ClearChannel.
O contrato de 10 anos firmado com a prefeitura de Paris prevê que a empresa terá direito de continuar explorando (além do aluguel de bicicletas) a publicidade em 1628 pontos da cidade.
Outro ítem que não entraria no Plano das Bicicletas Brancas é o limite de 30 minutos para cada viagem no Vélib. Ao final deste prazo, se o usuário não tiver devolvido a bicicleta, começa a pagar uma taxa extra (1 euro pela primeira hora, 2 pela segunda e 4 a partir da quarta hora).
Afinal, nestes tempos em que o marketing é "de guerrilha", os automóveis se chamam Eco e água virou refrigerante de auto-ajuda, investir uma porcentagem ínfima do orçamento na compra e distribuição de bicicletas pelas cidades e dizer que elas pertencem a todos continua sendo subversivo e utópico.
A implantação das bicicletas de uso público em Paris é apenas mais uma etapa da longa batalha empreendida pelo resgate do espaço e dos recursos roubados pelos automóveis na capital francesa, que nos últimos anos criou sérias restrições ao estacionamento e ao tráfego de veículos, abriu calçadões (para as pessoas, não para os carros), construiu corredores de ônibus e mais de 300km de ciclovias e ciclofaixas no espaço antes destinado aos automóveis.
A iniciativa parisiense das bicicletas públicas é significativa e mostra que grandes interesses econômicos devem estar condicionados aos anseios das sociedades; não o contrário, como é praxe nas sociedades periféricas.
(ciclofaixa em Paris / Mathias Fingerman)
[notícia no Panóptico - com vários links]
[notícia no blog da Transporte Ativo]
[notícia sobre o Vélib - espanhol]
[notícia sobre o Vélib - BBC Brasil - com vídeo]
[Vélib]
[sobre a vitória da concorrência pela J.C. Decaux - francês]
[sobre a vitória da concorrência pela J.C. Decaux - espanhol]
[Provos - "A contrcultura é laranja fluorecente"]
[Provos - Wikipedia]
[O uso político da bicicleta]
[Bicicleta e tempo de contestação]
[notícia no blog da Transporte Ativo]
[notícia sobre o Vélib - espanhol]
[notícia sobre o Vélib - BBC Brasil - com vídeo]
[Vélib]
[sobre a vitória da concorrência pela J.C. Decaux - francês]
[sobre a vitória da concorrência pela J.C. Decaux - espanhol]
[Provos - "A contrcultura é laranja fluorecente"]
[Provos - Wikipedia]
[O uso político da bicicleta]
[Bicicleta e tempo de contestação]
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Comments:
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Caro Luddista,
Legal vc mostrar o Velib e 'cutucar' ai nossos amigos paulistanos para repensarem a cidade!
Veja que o custo do Velib é 29€/ano e não por mês como dito no seu post.
A idéia do Velib é disponibilizar bicicletas para as pessoas se locomoverem em Paris, e por isso a tarificaçao incentiva que se devolva a bike em 30 minutos, para que outro possa usa-la, o que é razoavel, afinal, 30min é tempo suficiente para atravessar meia Paris (que tem 10Km de diâmetro!).
Legal vc mostrar o Velib e 'cutucar' ai nossos amigos paulistanos para repensarem a cidade!
Veja que o custo do Velib é 29€/ano e não por mês como dito no seu post.
A idéia do Velib é disponibilizar bicicletas para as pessoas se locomoverem em Paris, e por isso a tarificaçao incentiva que se devolva a bike em 30 minutos, para que outro possa usa-la, o que é razoavel, afinal, 30min é tempo suficiente para atravessar meia Paris (que tem 10Km de diâmetro!).
Ei Luddista!
Foi mal... achei que aqui tinha gravado meu endereço...
www.arnoud.blogger.com.br
Abraços!
Foi mal... achei que aqui tinha gravado meu endereço...
www.arnoud.blogger.com.br
Abraços!
Sobre o post, muito boa a contextualização histórica.
Não sei se a idéia de “bicicletas para todos” já foi tentada alguma vez. Talvez na China. De qualquer forma, creio que um dos motivos para que o tempo limite seja de 30 minutos(além de gerar renda para a empresa que administra o sistema) é fazer com que as bicicletas sejam mesmo um mobiliário urbano. Ou seja, a pessoa pega uma bicicleta faz um percurso, deixa a bicicleta para outro usuário, no seu próximo percurso usará outra bicicleta, assim por diante.
Enfim, é mais uma pedalada... :-)
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Não sei se a idéia de “bicicletas para todos” já foi tentada alguma vez. Talvez na China. De qualquer forma, creio que um dos motivos para que o tempo limite seja de 30 minutos(além de gerar renda para a empresa que administra o sistema) é fazer com que as bicicletas sejam mesmo um mobiliário urbano. Ou seja, a pessoa pega uma bicicleta faz um percurso, deixa a bicicleta para outro usuário, no seu próximo percurso usará outra bicicleta, assim por diante.
Enfim, é mais uma pedalada... :-)
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