terça-feira, julho 31, 2007

Aparkalypse Now


(ilustração: Matt Smith / SF Weekly)

Não é apenas em São Paulo que a especulação imobiliária caminha de mãos dadas com a máfia automobilística.

Em São Francisco (EUA), uma campanha liderada pelo bilionário republicano Don Fisher (fundador da grife GAP) e pela Webcor (gigante da construção civil) tenta desmontar o plano urbanístico da região central, consolidado a partir de 1983 com ampla consulta pública e participação da sociedade.

A "Iniciativa para Estacionamentos nas Vizinhanças" (ou Fisher's Initiative) pretende aproveitar a readequação de uma antiga área industrial próxima ao centro da cidade para acabar com uma antiga norma do plano urbanístico: o limite de uma vaga de garagem para cada quatro apartamentos construídos na região.

Isso mesmo: no centro de São Francisco, prédios novos só podem ter uma vaga para cada quatro apartamentos!

Os argumentos da campanha se baseiam na falácia mercadológica de que o desejo dos consumidores é morar em locais com vagas de garagem. Os automobilistas também chantageiam a prefeitura, dizendo que, se a norma não for revogada, São Francisco irá perder empregos e negócios para as regiões vizinhas.

Não é o que mostra a história da cidade, onde até o luxuoso hotel Grand Hyatt foi construído sem nenhuma vaga para automóveis.

Empreendimentos imobiliários com muitas vagas para carros só tendem a agravar o estado de imobilidade das cidades. Uso do solo e políticas de mobilidade são conceitos itimamente relacionados.

Estima-se que cada carro em circulação consuma diariamente sete vagas de garagem em locais distintos. A equação é simples: mais vagas, mais carros, menos espaço para pedestres, ônibus, praças, parques, bicicletas e espaços de convivência humana.


Centro de SP - ao fundo, Bom Retiro e Luz, dois alvos da especulação
(foto: gira)

Em São Paulo, cidade onde os apartamentos de classe média possuem mais vagas do que moradores, a especulação imobiliária avança com força total para "revitalizar" o centro. Nos antigos bairros da Luz, Bom Retiro, Campos Elíseos e arredores, começam a pipocar os primeiros empreendimentos imobiliários voltados à classe média, todos com muito espaço para os carros.

As ruas tranqüilas da região central de São Paulo, ainda que abandonadas há décadas pelas iniciativas pública e privada, ainda são um oásis para pedestres e ciclistas: calçadas largas, farta rede de transporte coletivo e ruas sem trânsito.

Se a "revitalização" em curso continuar baseada no fechamento de calçadões e servir apenas para atender aos anseios dos especuladores, é apenas questão de tempo para que os congestionamentos, a poluição e o barulho dos motores acabem com qualquer esperança de trazer vida à região.

[novela gráfica de Matt Smith no SF Weekly]

[Aparkalypse Now - Streetsblog]

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Comments:
Ah se eles apenas tivesse olhos pra ver...

Ouvidos para ouvir...

E um nariz para sentir o cheiro.

Planejariam mais verde, mais flores, mais gente.

Chegaremos lá, afinal, alguém tem que começar a ver antes dos outros...

Por fim, Gilberto Freyre...

Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
 
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