quinta-feira, agosto 16, 2007

Sobre pedestres, bicicletas e uso do solo



Esta é uma típica rua de Munique: calçadas com mais de 10 metros de largura e espaço compartilhado entre pedestres e ciclistas.

Boa parte das ciclovias de Munique fica em cima da calçada. Talvez sejam duas as razoes:

1) eles têm calçadas (e nao trilhas estreitas e esburacadas para quem não conseguiu comprar um carro);

2) é mais seguro dividir o espaço entre pedestres e ciclistas do que juntar bicicletas e máquinas motorizadas.

Em São Paulo as calçadas têm, quando muito, 2 metros de largura. São demasiado estreitas até para a quantidade de pedestres que nelas circulam.

Talvez por isso a meia dúzia de quilômetros de ciclovias existentes na capital paulista tenha sido construída nos canteiros centrais das avenidas (Sumaré e Faria Lima, por exemplo). Este modelo deve ser repetido em breve na Radial Leste: 12km de ciclovias no canteiro central da avenida, interligando as estações Corinthians-Itaquera e Tatuapé do Metrô.

O grande problema das ciclovias em canteiros centrais é o acesso a elas.

Se, para entrar e sair da ciclovia o cidadão tem que utilizar faixas de pedestre e enfrentar semáforos que ficam quatro minutos abertos para os carros e dez segundos para os transeuntes, a ciclovia não será utilizada.

Além disso, a distância excessiva entre os acessos é outro complicador que geralmente destrói boas idéias e intenções.



Esta é uma vizinhança típica de Munique. Prédios de quatro ou cinco andares, sem porteiros, faxineiros, cercas eletrificadas, cães de guarda, manobristas e segurancas de terno e gravata embaixo de guarda-sóis na calçada.

Além dos carros, a cidade de São Paulo teve o seu espaco devorado a partir da década de 70 pelos condomínios-disneylandia da classe média amedrontada. Piscinas, quadras poliesportivas, jardins, "lounges", salas de cinema, bosques, guaritas e até shopping centers instalados dentro do edifícios residenciais consomem muito espaco urbano, espalham a cidade.

"Condomínio-clube", dizem os especuladores, este é o nome do conceito que move a classe média e a pequena elite paulistana neste novo século. "Faca tudo sem sair de casa". Afinal, o trânsito de é infernal, não é mesmo?

À distância (de tempo e espaco), São Paulo realmente parece uma cidade crônicamente inviável. Ou resgatamos todas as quadras e demais áreas privativas dos condomínios e as devolvemos ao uso público, ou jamais teremos espaco para construir ciclovias, calcadas, parques e praças...

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Comments:
É de dar inveja.
 
Preciso de sua ajuda então. Ontem pedalei de Itaquera ao metrô Tatuape onde, em tese, passará a ciclovia.

Vi alguns ciclistas pedalando por ela e uns trechos, onde tem viadutos, buracos negros que devem levar a ciclovia para o canteiro central, quando não for na outra faixa.

Estou adorando ler seus textos, as matérias que coloquei em meu site na seção bike lá fora me ajudaram muito, mas seus textos conseguem ser bem mais claros, já que isso é sua especialidade.

Até agora não vi um texto seu falando sobre ciclovias em grandes corredores, como no caso da Radial Leste. Será que aí não existem grandes corredores? rs

Se você fizer um texto como esse será muito útil para poder escrever as minhas impressões sobre essa futura ciclovia. Ainda estou com dúvidas, não sei se elogio ou critíco, senti como sempre, muita vontade das pessoas em fazer algo, mas infelizmente não muita lógica em alguns aspectos, já que a maioria dos nossos "urbanistas e engenheiros", não tem a menor idéia do que é pedalar na cidade, então só conseguem pensar na bicicleta como lazer e olhe lá.

Abraços

André Pasqualini
 
Pegou pesado agora.

"Ou resgatamos todas as quadras e demais áreas privativas dos condomínios e as devolvemos ao uso público, ou jamais teremos espaco para construir ciclovias, calcadas, parques e praças..."

Tá sugerindo o que exatamente? Desapropriação? Expropriação pura e simples?

Acho que o caminho não é por ai. Temos que, de algum modo, atrair as pessoas e não espanta-las com idéias como estas.

Bogotá não precisou disso.

Abraços ciclisticos!
 
Bem, certamente não foi a intenção, sendo o luddista um defensor da liberdade, mas a idéia é valida, uma vez que os condomínios "modernos" tem toda a infra-estrutura e os moradores raramente a utilizam, mas provavelmente a idéia seria modificar o plano diretor a coibir esses disparates onde poucos tem espaço inutilizado e muitos ficam espremidos (literalmente)!
Como em post anterior http://apocalipsemotorizado.blogspot.com/2007/07/aparkalypse-now.html ele citou uma cidade de São Francisco “Ainda sobre miopia e especulação”, que limita as áreas construídas de acordo com a finalidade e o uso...
Quanto aos já construído é simples, não precisa expropriar (Igual nossos hermanos vem fazendo com nossos investimentos na América latina), apenas acrescentar um fator de cobrança no IPTU, mais justo, assim como pelo uso de água e energia elétrica... uma alíquota crescente conforme o desperdício de qualquer um dos itens, bem diferente da cobrança atual de água, onde se você gasta menos de 10 metros cúbicos paga o mesmo que quem gasta 10, e quem gasta mais... paga simplesmente o que gasta, sem nenhuma taxa extra....
Com essa taxa os que desperdiçam qualquer coisa vão realmente pagar pelo que desperdiçam... e todos se moldarão a uma sociedade mais justa...
 
Pela situação em que vivemos e pela mentalidade das pessoas eu acredito que será muito dificil que se tenha consciencia das mudanças que devam ser feitas para tornar o espaço do ser humano, mais agradável, digamos assim. Talvez isso demore 100, 200, 500 anos para começar, não sei, mas um dia isso ->vai<- ter que ser feito. Senao, onde as pessoas irão viver, numa jaula como num zoologico?
Como visto na Europa pelas excelentes fotos postadas aqui, me parece haver um espírito voltado para o bem-estar das pessoas e seu convivio social, é nítido. A introducao da bicicleta, construcao de parques e a definição de uma nova estrutura de crescimento para as cidades dependerá muito das gestoes que virão. Ainda bem que nós, ciclistas, estamos um passo à frente.
Abraço
 
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