quarta-feira, maio 02, 2007

Arquitetura da destruição



Para o rei carro entrar em seu castelo, construímos escadas no lugar das calçadas, confinamos deficientes físicos e visuais em suas casas e proibimos a circulação de idosos.

A cidade inteira está repleta de cenas como esta.

Diz a lei automobilista que a responsabilidade de zelar pelas calçadas é do proprietário do "lote lindeiro". Já aos cofres públicos, cabe a árdua tarefa de zelar pelo asfalto das ruas, tapando buracos a cada dia e trocando o asfalto a cada prefeito.

Já que os interesses públicos e privados se misturam em benefício do segundo, temos milhões de reais gastos com asfalto e nenhum tostão investido nas calçadas.

Em São Paulo existe um programa de orientação para que o proprietário do imóvel adeque sua calçada aos padrões estabelecidos. Como não há fiscalização nem obrigatoriedade de seguir os padrões de acessibilidade, os proprietários dos imóveis continuam a julgar que o mais adequado é transformar sua calçada em rampa de acesso às garagens.

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Comments:
Que horror! Será possível que isso é legal?
 
Arquitetura da Destruição é um filme acachapante e só encontramos coisa similar no que o capital acaba fazendo no mundo.

Não é mais uma ideologia doentia: são trusts, conglomerados, cartéis...
 
O exemplo mostrado na foto é até "justificado" por uma ladeira considerável. Na rua onde meus pais moram, no entanto, existem alguns exemplos como o mostrado, mas o interessante alí é que a rua é totalmente PLANA! Minha mãe já tomou um tombo numa dessas rampas ou escadas de acesso à sua santidade o carro.
Abraço!
 
Tenho uma tia que mora em Paris. Ela sempre criticava os Brasucas porque andamos na rua e não na calçada. Ela achava um absurdo. Até passar alguns dias em São Paulo. Ela pediu desculpas pra mim.

As calçadas, principalmente em regiões com muitos prédios, têm um outro problema: cocô de cachorro. É um verdadeiro campo minado...

Como as calçadas são estreitas, tua cabeça disputa espaço com os galhos das árvores. Se você não pisa na merda leva uma chicotada na cara. Se você desvia dos galhos, pisa na merda.

A verdade é que a prefeitura sempre joga a responsabilidade para o pedestre. Entre calçadas ruins e faróis de pedestres demoradíssimos, o culpado é sempre o pedestre.

Falando em faróis de pedestres, alguém mais já percebeu que a quantidade destas porcarias, principalmente os com botões, aumentou muito nos últimos meses em SP?
 
E eu não quero nem saber. Ando por aí como um cego-surdo-mudo-ignorante. Não tem calçada, ando na rua. Não tem faixa de pedestre num raio de 100 metros, atravesso onde estiver. Estou na faixa e abre o sinal, continuo meu passo normal e podem roncar os motores o quanto quiserem. Se um dia me atropelarem, azar...
 
Marcelo, não se justifica não...

Em Ribeirão Preto é muito raro encontrar esse tipo de calçada, por mais íngreme que seja a rua... dá pra fazer diferente.

A mãe com o carrinho do bebê, como faz?
 
Pois é, companheiro, meu avô é cego. E com freqüência levo o velhinho de 90 anos ao Hospital São Paulo, na Vila Mariana. Com meus ótimos olhos, nunca tinha notado a situação das calçadas. Até que um dia, o vô caiu e se machucou gravemente por causa de uma "inocente" calçada. A situação se agravou. Hoje, o velho está traumatizado. Anda na rua. Pergunto: e se uma besta motorizada atropelá-lo? Quem será o culpado: a calçada e o poder público ou o motorista? Tostines, não?
Abraços, Fá
 
gunnar, todo mundo faz o que você faz. Indo de ponta a ponta da Paulista a pé leva um pouco mais de 20 minutos. Tente respeitar todos os faróis: leva mais de uma hora.

O problema é que a responsabilidade que deveria ser do motorista (ele é o poluidor, agressor, usurpador de espaço público, etc) vira do pedestre: o pedestre é atropelado porque atravessou fora da faixa ou no farol vermelho.

A evolução de uma rua: inicialmente ela é dos pedestres mas aí surgem os monstros de mais de 1 tonelada. No entanto, legalmente, os pedestres têm prioridade. Aí eles colocam a faixa e os pedestres só tem prioridade nestas raras coisas brancas do chão. Isto atrapalha o "trânsito" então coloca-se um farol de pedestres. Aí o pedestre só tem prioridade nas minúsculas faixas brancas durante 5% do tempo. Mas muitas vezes não há nenhum pedestre e poderia se melhorar o "trânsito": coloca-se o botão. Aí a prioridade cai ainda mais porque o pedestre sempre terá que esperar e muitas vezes esperar que o ciclo do farol se repita. Outras vezes, como os botões são um lixo, imundos e furados, as pessoas evitam ao máximo apertar os botões rezando para que algum trouxa já tenha apertado - a velha história do deixa que eu deixo.

Resultado final: todo mundo atravessa em qualquer lugar a qualquer hora. O que deveria ser natural agora é ilegal. Se eu for atropelado e sobreviver ainda vou ter que pagar pelos amassados da máquina mortífera e limpar meu sangue do parachoque e eventualmente pagar psicólogo porque o domador de máquinas gigantes não pode ficar traumatizado com tanto sangue.
 
Wlad, observe que o justifica está entre aspas. Não creio que exista justificativa para isso, apenas coloque o fato em oposição ao exemplo que apresentei.
Sinceramente, acho que esse é aquela velha mania que os paulistanos (brasileiros, seres humanos, sei lá) têm de jogar para os outros sua própria responsabilidade. "Se eu tenho que colocar meu carro numa posição em que não fique inclinado, faço uma ladeira no espaço público. Porque eu usaria meu próprio espaço para isso?" Isso vale também para o problema dos cocôs de cachorro que o Durruti mencionou. "Meu cachorro quer fazer cocô? Solto ele logo pela manhã ou o levo para passear. EU, limpar cocô de cachorro?!?!?!?"
 
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