quarta-feira, dezembro 20, 2006

Visite o inferno



O final do ano é uma ótima época para conhecer São Paulo. O clima quente e o asfalto rachando por todos os lados são perfeitos para o encenação apocalíptica do natal e realização das últimas pendências antes de entupirmos as rodovias para curtir o grande feriadão. Tudo sobre quatro rodas, duas toneladas e um motor a combustão.

Além de trabalhar para dirigir e dirigir para trabalhar, nossos educados cidadãos motorizados também entopem as ruas nesta época do ano para consumir e ver as incríveis decorações de natal instaladas especialmente em agências bancárias. Amplas calçadas estão disponíveis para o estacionamento dos visitantes motorizados.



Em São Paulo o pedestre é sempre respeitado. Nossa cidade dispõe de calçadas perfeitas para fraturas em transeuntes de todas as idades. Nossos cruzamentos quase nunca têm semáforo específico para pedestres e em alguns pontos você poderá desfrutar de menos de 10 segundos para atravessar uma rua, desviando de apenas três ou quatro carros em cima da faixa.



Aqui nós entupimos ruas e avenidas todos os dias com nossos maravilhosos automóveis levando apenas uma pessoa dentro.



Aqui nós gastamos fortunas construindo avenidas e pontes cada vez mais largas para acomodar nossas maravilhosas máquinas poluidoras de transporte individual.



Aqui, como nas grandes metrópoles mundiais, o transporte público é uma ótima forma de conhecer a cidade. Milhões de carros com uma pessoa dentro tornam a sua viagem de ônibus sempre agradável. Dentro de um coletivo cercado por carros você poderá passar várias horas contemplando a cidade, um "city tour" inesquecível.

Carro atrapalha o trânsito: já que construção de faixas exclusivas para o transporte coletivo acontece em espasmos esporádicos e não se constitui em prioridade para as administrações municipais, quem anda de carro não só prejudica outros motoristas, mas também atrapalha a grande maioria (70% da população) que não tem automóvel.



E aqui, nesta maravilha da engenharia moderna, celebramos o nosso final de ano. A cidade que teve seus espaços públicos roubados ou prostituídos pelo automóvel quase não tem praças ou áreas públicas de convivência, então comemoramos a virada na avenida mesmo.



Outro ângulo da nossa "Copacabana". Como na babilônia, nossos jardins e canteiros também são suspensos, assim deixamos todo o espaço livre para o congestionamento e ainda fornecemos uma boa quantidade de monóxido de carbono para alimentar as plantinhas e fuligem tóxica para a criação de novas espécies mutantes.

Traga seu carro e venha se divertir em São Paulo. É inesquecível!

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Comments:
Luddista, quando converso com alguém sobre os males do excesso de carros e respondo porquê não tenho carro, as pessoas acham que sou louco, estranho.
Mas essas pessoas não conseguem fornecer nenhum argumento sensato. E ainda acham que o errado sou eu.

Não sei se isso é falta de personalidade para ir contra a maioria ou se é lavagem cerebral feita pela mídia. Talvez os dois.
 
Belas fotos, belo texto.
 
Apocalíptico é pouco para definir estas belas imagens de São Paulo. Parabéns pelo belo texto.
 
Cara,
Muito massa o texto, o impressionante é como ele se encaixa a nossa cidade (BH)em quase todos os aspectos...hehehehehe

Sobre o comentário do Fábio, realmente as pessoas acham que nossos argumentos são furados, afinal de contas andar de bicicleta nesse transito horroroso é muito perigoso, então compro um carro e torno o transito ainda mais horroroso e perigoso.

Dureza!

Feliz natal e tudo de bom pra você Thiago.
 
E eu achei que eu sabia ser irônico...
 
Sempre existe o argumento padrão:

"Eu não tenho opção"

que é a maior picaretagem que existe
 
Aqui na cidade onde moro , Caxias do Sul - RS somos em 400 mil habitantes. O transito em certos momentos se torna complicado, e o pior eh que a cidade esta crescendo, por ser um polo metal-mecanico, mas nao vejo nada sendo feito para evitar que se torne uma dor de cabeca das grandes no futuro. Eh ver para crer.
Excelente texto, muito bom.
Abracos.
 
Caracas!!!Conheci SP no mês de maio; era acostumada que só às faixas de pedestre de Brasília.

Tá que eu, num cruzamento em sampa, pisei toda confiante na faixa... OS CARROS TODOS VIERAM PRA CIMA DE MIM!!! Quase fico sem meu dedãozinho do pé direito (ainda bem que era o direito, ufa... tive sorte)!

Inocente eu, achando que era só em maio...
 
o anderson mora em caxias do sul. morei por anos em bento gonçalves, uma cidade próxima, com 100 mil habitantes. a situação é parecida: não há desenvolvimento do transporte público e o automóvel é um fetiche e tanto. numa cidade em que muitos percursos podem ser feitos a pé, as pessoas insistem em sair de carro. evidentemente, a prefeitura asfaltou a cidade inteira, para facilitar o tráfego, e tenho informações de que há uma demanda massiva à prática de "esportes" como o racha. parece que em cidades pequenas, médias e grandes ocorrem fatos semelhantes, o que aponta para uma forte construção ideológica que, como todos dizem aqui, não pode ser contradita através de informações ou dados. não bastasse, dias atrás, o lula disse: meu sonho é que todo o brasileiro possa ter o seu carrinho zero. parabéns pelo site, pessoal.
 
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