terça-feira, outubro 17, 2006

Motos na Sumaré ou "Verde? Que verde?"


(cadê o semáforo de pedestres?)

A avenida Sumaré, na zona Oeste de São Paulo, vem se consolidando como o campo de provas da CET, espaço onde os gerentes do caos podem abrir a sua caixinha de malvadezas e testar o que será feito no resto da cidade.

Há pouco tempo implantaram uma faixa segregada para motos. Como disse Guy Debord, a moto não é nada mais do que um subproduto do automóvel; ela não tem nada a ver com bicicletas ou pedestres. Em São Paulo isso é claro como o branco dos olhos.

Na década de 90 aconteceu a abertura do mercado e a substituição das "carroças" (termo cunhado por Fernando Collor, o senador) por modernas máquinas. O enxame de veículos contou com generosos subsídios à indústria automobilística (que continuam em vigor até hoje) e com a estabilização (?) da economia, que permitiu a difusão em massa da moderna escravidão, chamada de crediário.

Com o aumento exponencial no número de carros em circulação, as ruas começaram a parar. Para que a moderna economia não parasse também, pequenas e grandes empresas começaram a se utilizar de uma característica comum aos países subdesenvolvidos: a mão de obra barata, ou melhor, a vida humana que não vale nada.

No lugar dos saudosos office-boys que circulavam tranquilamente de ônibus ou a pé, surgiram os motoboys, sub-empregados insanos que correm que nem loucos para tirar alguns trocados para o "leite das crianças".

A implantação generalizada do sistema de entregas por motocicletas gerou alívio econômico. Aos poucos, no entanto, o uso excessivo desta forma de transporte de mercadorias começou a gerar mais um problema urbano: o aumento da violência na disputa por espaço com os motoristas.

Espelhos quebrados, chutes nas portas e assaltos por duplas em motos começaram a incomodar a classe média "formadora de opinião". Além disso, as mortes de anônimos motoboys começaram a engrossar significativamente a estatística de óbitos no trânsito.

Para resolver os espelhos quebrados, os gerentes do caos fizeram o que estão habituados a fazer: criaram um paliativo, segregando as motos em uma faixa esclusiva. Logo nos primeiros dias, alguns "acidentes" com pedestres e motos fizeram com que a CET fosse obrigada a tomar algumas medidas. Entre elas, a placa da foto acima.

"Pedestre, cuidado: motocicleta. Só atravesse no VERDE", diz a placa. O detalhe kafkaniano é que as travessias de pedestres da Sumaré não possuem semáforo para pedestres! Aliás, encontrar semáforos de pedestres em São Paulo é tão difícil quanto encontrar um político que use diariamente transporte público ou não-motorizado.

Isso pra não falar que a lógica da CET ao tratar os pedestres subverte o código de trânsito e o bom senso. Diz a lei que cabe sempre ao condutor do veículo mais pesado zelar pela segurança do mais leve e que todos devem zelar pela segurança do pedestre. Não seria tão ou mais razoável uma faixa "motociclista, cuidado com o pedestre". Mas estamos em São Paulo, cidade onde o carro é rei, a moto é a rainha e o pedestre.... o que é um pedestre mesmo?

A segregação dos diversos veículos não é solução para nada. Assim como no caso das ciclovias, é inviável criar faixas separadas para cada tipo de veículo em todas as ruas da cidade. As vias devem ser compartilhadas por todos. Mesmo assim, publicações facistas como a revista Veja preferem criticar a iniciativa pelo único ponto de vista que satisfaz boa parte dos "formadores de opinião": os congestionamentos.

Nesta reportagem, a pseudo-revista chega a afirmar que a culpa dos congestionamentos na Sumaré é da motofaixa, e não da permissão de estacionamento em boa parte da avenida ou do excesso de veículos em circulação em toda a cidade. Para a Veja, a morte de um motoboy por dia é um preço justo para que 30% da popualção continue a entupir as ruas com suas máquinas de quatro rodas e pedir pizza pelo telefone.

[artigo no +vá de bike!+ sobre a motofaixa]

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Comments:
Eu treino de bike todo dia de manha, vou e volto da USP, passo pela sumaré e para isso a faixa de moto ficou MUITO boa, os carros não vem mais raspando em mim e os motoboys passam numa boa, mas para circular de carro pelo bairro é uma praga!!! Transito demais nas ruas paralelas e transversais que eram calmas e tudo isso dura o dia inteiro, um caos, fora que as faixas ficaram menores e as pessoas não conseguem guiar seus carros nesses espaços, apesar de dar pra circular 3 carros numa boa.

Mas em vez de faixa de moto deveria existir CICLOVIA!!!!
 
Pô irmão, seu artigo sobre a motofaixa me fez tomar vergonha, parar de lustrar o meu e publicá-lo... Veja lá!
 
Grandes incoerencias e muita confusao, como sempre, marcam as vias de transito. Eh isso ae Brasil!!!
 
quanto pior, melhor...
 
Gostaria de reproduzir este artigo no Jornal de Debates, onde o assunto está na roda: http://www.jornaldedebates.ig.com.br/index.aspx

Aguardo retorno com seu OK -

Ricardo Paoletti
Editor
Jornal de Debates
 
Ricardo, os artigos aqui publicados são em copyleft, ou seja, a reprodução é livre. "Pedimos apenas a gentileza de citar a fonte" (se possível, com link para o local original). Um abraço.
 
E bando de egoísta,nós motoboys é que fazemos serviços burocráticos para que vcs mauricinhos fiquem na mordomia.NUNCA ESQUEÇAM DISSO
 
Faz por que quer!!! Vai estudar e arrumar um emprego decente, ta cheio de biblioteca publica por ai! É motoboy por que quer!
 
A razão dessa faixa é porque o subprefeito de pinheiros quer fazer da classe media uma cobaia para sua teoria insana. E como ele é um imbecil só esta piorando as coisas e deve ter percebido que fez merda!
 
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