quinta-feira, outubro 26, 2006

Eu destruo, você preserva



Se fosse um animal de verdade, o macaquinho bem que poderia estar no capô do carro, todo ensangüentado ou em pedacinhos, depois de ter sido atropelado em uma estrada qualquer.

Capas de pneu das caminhonetes que carregam geralmente uma pessoa e quase sempre circulam apenas na cidade são uma amostra incrível do que é a cultura do automóvel.

Essa artimanha deve servir como tentativa subliminar para aliviar a consciência dos motoristas. Faça o que eu digo, não faça o que eu faço. Coloque um macaquinho e uma frase bonita e esqueça que a cultura do automóvel é uma das maiores responsáveis pela destruição do meio ambiente, especialmente aquele onde vive o ser humano.

Além de ser o principal responsável pela poluição em São Paulo, o carro desintegra a noção de convivência em sociedade, expande a cidade, degrada o espaço público e ocupa muito espaço com circulação e estacionamento.

[álbum de fotos]

[cartaz ecotransporte no Disco Virtual]

voltar ao topo

Comments:
As pessoas geralmente associam preservar a natureza com desmatamentos. E como desmatamentos são problemas dos outros - afinal, o cidadão comum em São Paulo, por si só e diretamente, não desmata nada - preservar a natureza passa a ser problema dos outros.

Além do mais é politicamente correto dizer que se é a favor da preservação da natureza, seja lá o que isso signifique...

Outra capa dessas têm a inscrição "Suzuki likes nature". Em português, "Suzuki gosta da natureza". A frase provavelmente é um trocadilho usando o outro significado da palavra like, que é parecer, se assemelhar. Bem, a Suzuki gosta tanto da natureza que fábrica máquinas poluidoras.

Para complementar a desinformação, a tal capa tem um animal estilizado, que não lembro se é um golfinho ou um panda, mas é um animal muito longe da realidade onde o carro está sendo usado. O carro não é usado dentro da água (apesar de indiretamente causar sua contaminação também) nem nas florestas do Nepal (assim espero!), ou seja, preservar a natureza continua sendo problema dos outros, não da suzuki nem do dono do carro.

A imagem dessa capa da Suzuki poderia ter uma criança com uma máscara de oxigênio... Se eu conseguir fotografar uma, vou tentar fazer uma montagem.
 
E tem aquele outro modelo com nome Ford ECOsport. Esses caras da propaganda são gênios, antes faziam acreditar que cigarro era coisa de gente que praticava esporte.
 
"E como desmatamentos são problemas dos outros - afinal, o cidadão comum em São Paulo, por si só e diretamente, não desmata nada"
Adoro o provincianismo dos paulistas, acham que a Suzuki faz carros só para eles.
Preservar a natureza nesse caso vem do fato de que o carro é totalflex. No estágio atual é impossível abolir os automóveis, daí diminuir a emissão é preservar a natureza.
Vocês são muito intolerantes.
 
Crítica não é intolerância. Observar o mundo um pouco mais além do que é vendido como valor supremo não é intolerância.

As consequências ambientais do uso excessivo dos automóveis não são apenas a emissão de gases poluentes. Como disse o Willian e todo ecologista que não parou na década de 60, meio ambiente não é só o macaquinho na floresta. Meio ambiente é, principalmente, o local onde vivemos e todos os espaços inter-relacionados.

Um carro, só para ser fabricado, já polui o suficiente para ser chamado de anti-ecológico.

Mas a coisa é bem sutil. Seria o mesmo que a indústria bélica fabricar um míssil chamado "paz", alegando que as guerras de hoje matam menos do que no tempo dos nazistas.

Por fim, a Suzuki não faz carros só para os paulistas, mas certamente eles estão entre os maiores consumidores de carros. E o absurdo é que os paulistas compram carros feitos para andar na selva e passam 99% do tempo utilizando-os na cidade.
 
Hahahaha, só podia ser o famoso anônimo, mesmo! Se fosse um pouquinho mais informado, saberia que o tal Totalflex não ajuda em NADA o meio ambiente, apenas piora a situação: usar milhões de ectares de plantação de cana para movimentar os mesmos meios de uma tonelada ou mais concebidos para propulsão por combustíveis fósseis já é, por definição, uma grande burrice! Anônimo, compre um desses pra vc, se já não tiver, pois combina bastante com o seu pensamento...
 
Ah, só pra lembrar: também não diminuem a emissão, já que a mesma quantidade de gás carbônico vai para a atmosfera, 20% a cada litro, litro e meio ou dois (conforme a motorização), por cilindro. Procure se informar mais antes de vir postar bobagens nesse blog.
 
Ah, onde eu falei ali em cima "se eu conseguir fotografar uma", eu me referia à capa de pneu, não à criança com máscara de oxigênio... ;)
 
Se o anônimo tivesse informação necessária para argumentar como disse o Marcelo, até poderia virar um debate, mas não tem como argumentar isso. As pessoas acham que o carro não faz mal e só ajuda, coitadas foram alienadas pela cultura de massa e pela indústria cultural capitalista, tenho pena delas.
 
Desde quando "Marcelo" é menos anônimo que "anônimo"? De que vale um nome?
E inventar informações não vale. Álcool polui menos que gasolina. Não vou discutir isso, é como discutir que 2+2=4.
Luddista,
Sua comparação é ridícula e primária. Uma arma tem um único fim: matar. Carros tem o fim de locomoção, com um "efeito colateral" ambiental. A locomoção é necessária, embora você pareça ignorar isso. O modelo de transporte via bicicletas não supre/supriria as necessidades da maior parte da população. Ah, e é preciso dizer: ninguém é obrigado a virar atleta. O transporte público sim deve suprir, mas não o faz no momento. Daí carros a álcool ou a gás são melhores, sim, do que carros a gasolina.
Olhe a sua volta, tudo foi entregue por transportadoras motorizadas, seria impossível fazê-lo de outra maneira. Daí a importância das vias (que já vi serem questionadas aqui) ou então vai se morar à beira do lago Walden, mas até Thoureau teve um dia que voltou.
Eu não acho que "o carro não faz mal só ajuda" como disse o idiot.., digo o falansterio aí em cima, mas vocês acham que carros são desnecessários. Eles não são. A não ser que se more numa casa de doces ou no mundo de Oz, como vocês.
 
Não costumo fazer comentários aqui, acho de certa forma indelicado. Como autor dos textos, parece que quero ficar "retrucando", mas não é isso.

Ainda nesta semana devo escrever uma espécie de "editorial", justificando a existência deste blog e talvez isso ajude o anônimo e outros a entender do que se trata. "Celebrar olhares alternativos" é algo que vi um dos blogs que estão na lista de links. É mais ou menos por aí.

Ninguém propõe a exinção dos carros, a quebra das máquinas ou uma revolução formulada na minha cabeça (ou na de qualquer outro). Trata-se de rever conceitos, ampliar os horizontes e criticar o que muitas vezes passa despercebido. Vivemos em uma sociedade entorpecida. Se hoje é pelo consumo, antes podia ser pela religião.

A comparação entre carros e armas não é ridícula. São os dois maiores lobbies mundiais e estão associados de forma absolutamente intrínseca. O carro é a arma civil tolerada, um objeto privado de uso público que serve muito mais do que para a simples locomoção.

O carro é status, é a armadura que promove a guerra cotidiana entre os cidadãos. O carro é símbolo de poder e de opressão, tanto do motorista que se acha no direito de buzinar para um pedestre ou para outro carro que o está "atrapalhando", quanto de uma cultura que transformou as cidades para promover (e vender) o próprio carro. Esta cultura é opressora, excludente e está muito além da simples locomoção.

Como disse lá no começo, ninguém aqui pretende abolir os carros e voltar ao mundo pastoril. Mas a crítica é necessária em uma sociedade entorpecida, ou seja, em qualquer sociedade que já existiu até hoje. Refutar a crítica e a ironia é uma postura reacionária.

Entendo que os carros a álcool poluem menos do que os movidos a gasolina ou diesel. Mas a questão ambiental da poluição é apenas uma pequena parte (talvez a menor) de toda a cultura do automóvel que este blog pretende abordar.

Os biocombustíveis são muito mais uma forma de perpetuar uma cultura insustentável do que uma alternativa de sobrevivência. Plantar cana de açucar ou mamona para sustentar um carro para cada habitante adulto provocaria um colapso maior do que o que já foi feito. Os biocombustíveis, assim como os transgênicos, são elementos "novos" e seus impactos ainda não são conhecidos de forma global.

A questão é repensar o uso do automóvel como ÚNICA forma de locomoção socialmente valorizada ou desejada. É preciso considerar que o uso excessivo dos carros e toda a cultura de consumo exacerbado da qual ele é representante máximo são alguns dos maiores problemas humanos deste começo de século.

E em São Paulo, ambiente geográfico de exemplo utilizado por este blog, o carro ainda é visto como solução e os questionamentos sobre esta cultura praticamente não existem. Ficamos sempre no nível dos paliativos, que como todos, são inócuos.

Enfim, aguarde o "editorial", pois não pretendo mais ficar escrevendo neste espaço dos comentários.

grande abraço,
bom final de semana a pé ou de bicicleta para todos
 
Anônimo. Como vi, vc é muito bom em cálculos (2+2=4, hehehehe). Agora, faça o seguinte: qual a percentagem de O2 na atmosfera? Quanto o motor (seja qual for ele), libera de CO2 a cada rotação, segundo a motorização? Parece que é meio difícil pra vc assimilar isso...
Procure se informar mais e não venha discutir e achar que está decretado e pronto! O etanol, carregado de todo o orgulho do brasileiro e blá-blá-blá, é uma das grandes desgraças ambientais do nosso país, basta entrar alguns quilômetros pelo interior do estado.
Talvez por isso vc goste tanto do provincianismo paulistano.
 
Anônimo, o que o Marcelo quis dizer em seus segundo e terceiro comentários é que poir mais "bio" que seja o combustível, sempre haverá emissão de CO2, que é o principal vilão do efeito estufa. 90% do CO2 da cidade de São Paulo é emitido pelos automóveis (carros, ônibus, caminhões e motocicletas). A emissão de hidrocarbonetos e material particulado pode cair, mas ainda haverá CO2, pois é resultante de qualquer combustão - sendo gerado até pela nossa respiração, como você bem sabe.

Mas, é claro, essa é apenas uma das questões envolvidas com o uso excessivo e a supervalorização do automóvel. Alguns outros são: prioridade sempre para os veículos motorizados em relação ao pedestre (veja meus comentários sobre a motofaixa, no meu site); planejamento da cidade visando o uso do automóvel particular; o uso do carro como "armadura", como bem lembrou o luddista; as mortes de 1500 pessoas por ano só no município, sem contar os feridos e seqüelados de todos os tipos; os custos sociais e financeiros dos acidentes de trânsito, dos mortos e feridos, das doenças respiratórias e cardíacas, do sedentarismo, dos congestionamentos (tanto em relação a atrasos quanto às conseqüências psicológicas e de saúde), da conservação (ou não) da malha viária destinada ao uso do automóvel particular.

E por favor, seus argumentos mostram que você é uma pessoa inteligente: nós não estamos propondo aqui que carroças voltem a trazer as frutas do interior para a capital (mas que grande parte poderia vir por ferrovia, poderia). O que queremos mostrar é que, por mais que o uso do carro tenha se enraizado nos hábitos sociais dos paulistanos, o fim não pode justificar os meios a ponto de fecharmos nossos olhos para todas as questões, dizendo "o carro é necessário e ponto".

E não leve para o lado pessoal, não é esse o objetivo de ninguém aqui. Você tem todo o direito de discordar, tanto quanto outros têm direito de discordar de você.

Ninguém tampouco está querendo obrigar você a deixar o carro em casa e usar uma bicicleta, até porque entendemos que, além de ser uma opção pessoal, ela não é realizável para todas as pessoas, por motivos mais diversos: pouca ou muita idade, condições de saúde (doenças crônicas, obesidade mórbida, problemas cardíacos ou respiratórios, etc.), distância, medo de enfrentar o trânsito sem a armadura, medo de ter contato com as pessoas na rua, situações especiais de mobilidade e condições físicas, necessidade de manter um status social aparente, falta de infra-estrutura ou preconceito por parte da empresa onde se trabalha, medo de parecer um ecochato, um excêntrico ou um esquisofrênico, ou até mesmo uma opção consciente pelo sedentarismo.

O que mais tentamos aqui é principalmente fazer as pessoas verem o uso do automóvel de forma diferente e entender, além dos pontos bons que todos já conhecemos e que as propagandas tanto alardeiam, quais os pontos ruins. Também tentamos mostrar que, embora o automóvel seja hoje indispensável para a sociedade, o uso do carro particular é dispensável em muitas situações do cotidiano. Se conseguirmos fazer meia dúzia de pessoas entender sem preconceitos a forma como vemos o uso do automóvel, mesmo que você não esteja nessa meia dúzia, já ficaremos felizes.
 
Apenas um esclarecimento sobre poluicao de carros a alcool e gasolina: sim, o a alcool polui menos, mas isso nao e' verdade para o Totalflex usando alcool. Como esse motor deve funcionar tambem com gasolina (e suas misturas) ele nao e' otimizado para o alcool (como um motor que funciona somente com alcool), de forma que o rendimento nesse caso diminui e a poluicao aumenta (comparando motor a alcool e motor Totalflex usando alcool). E' uma questao construtiva do motor (entre outras coisas, relacionada com a taxa de compressao) que a eletronica nao e' capaz de resolver totalmente. Para poluir menos mesmo, e' melhor pedalar! :)
 
É infelizmente as pessoas não querem admitir que não estão nem aí para a natureza. Então ficam inventando desculpar por acabar com ela como se não tivessem alternativas.Isso infelizmente ocorre em 80% da população mundial onde todos fingem que estão querendo fazer o melhor mas é tudo fachada, no fim não estão nem aí só querem ter é conforto e luxo.
 
Postar um comentário

<< Home