quinta-feira, julho 27, 2006

Morte ao respirar



Na semana que teve o dia mais quente de todos os invernos e, certamente, o maior número de internações e mortes por causa da poluição, acontece a conferência internacional "Ar limpo para a América Latina".

Em poucas palavras, a conferência promovida pelo Banco Mundial discute a vinda de dinheiro do norte ("a mão que dá") para que nós do sul ("a mão pedinte") amenizemos o nosso "em desenvolvimento".

Enquanto isso, apenas 16 dias sem chuva no inverno deixaram a capital com as piores condições atmosféricas do ano. Apenas 17% de umidade do ar e condições "inadequadas" segundo a medição de poluição da CETESB.

Segundo matéria da Folha (para assinantes), o ar seco em São Paulo é muito pior do que a tradicional estiagem de Brasília. "Tudo porque a poluição causada pela frota de mais de 5 milhões de carros agrava ainda mais os problemas de saúde causados pelo clima seco."

Dores de cabeça, tosse, catarro, alergias, tontura, dificuldade para respirar e agravamento de doenças respiratórias; essas são as consequências perceptíveis. O quadro é mais grave em crianças e idosos. Segundo pesquisas do professor Paulo Saldiva, 10 a 12 pessoas morrem todos os dias na capital vítimas da poluição.

No interior do Estado, as queimadas para o plantio da cana de açúcar (aquela que gera o "limpo" álcool combustível) tornaram a vida dos habitantes ainda pior: a umidade do ar chegou a 12% em Ribeirão Preto (o recomendado é de 30%).

Mas a cidade parece não estar nem aí: as condições atmosféricas críticas continuam a ser atribuídas pela mídia a fenômenos climáticos. A Folha de São Paulo, por exemplo, chega a dizer categoricamente "O problema ocorre principalmente devido à estiagem".

A seca no inverno é normal desde que Padre Anchieta chegou nestas terras. O que não é normal, e, portanto, causa o problema, é a poluição gerada pela queima de combustíveis. Anormal também é que apenas 30% da população possua automóveis e que as máquinas queimadoras de duas toneladas circulem nas ruas com apenas uma pessoa dentro. Mais anormal ainda é o silêncio escandaloso da sociedade, da mídia e do poder público.

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Comments:
Amanhã tem Bicicletada????
 
vou parar de ler esse teu blog pra não ficar mais deprê...a situação tá muito crítica, mesmo!

E na própria matéria da Folha está escrito:
- 47 milhões gastos em internações por doenças respiratória na cidade de SP em apenas 3 meses
- 11 milhões é quando custa a implantação de pouco mais de 100 km de ciclovias, segundo informações sobre o plano de ciclovias chefiado pela SVMA.

Precisa falar mais???
 
Ouvi agora na Cbn uma matéria.
Falaram da experiência de Bogotá, da necessidade de melhoria do transporte público etc. Mas deram uma ênfase grande ao Álcool como alternativa e à "necessidade de renovar a frota". Ora, renovar a frota não muda o modelo! É renovar o problema. E a matéria terminou meio "se cada um fizer um pouquinho a gente vence essa". É verdade, se houver envolvimento das pessoas melhora, mas são necessárias políticas governamentais para acontecer algo relevante.
 
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