sexta-feira, março 17, 2006

Goebbels, Fiat e o futuro



Segundo informa esta matéria do Estadão, com o sugestivo título de "montadoras mostram novas armas na guerra pela liderança", deve entrar no ar neste final de semana mais uma campanha publicitária inspirada nos princípios do marqueteiro nazista Joseph Goebbels.

Trata-se da série "convidando você a pensar o futuro", comemoração dos 30 anos em solo nacional da Fiat (a fabrica que tornou-se a maior da Itália fabricando máquinas de guerra para Mussolini).

A agência de publicidade entrevistou 250 crianças e adolescentes sobre o automóvel do futuro. Entre os depoimentos utilizados, carros movidos água e que despoluem a cidade em vez de poluir.

Na maior cara de pau, a indústria que mais polui e mata (direta ou indiretamente) no mundo faz propaganda dizendo exatamente o oposto. O marqueteiro nazista sorri no túmulo ao lado de Henry Ford.

"Responsabilidade corporativa"? Nada disso: "Eles (as crianças e adolescentes) são os consumidores do futuro", explica o publicitário da agência responsável pela campanha.

Utilizar crianças em comerciais já é algo repugnante. Fazer propaganda destinada a elas é um dos maiores crimes contra a espécie humana praticados pelas corporações. Vender a morte como se fosse vida, a escravidão como liberdade e o individualismo como valor social é a base da propaganda dos automóveis.

Como eu acredito que lugar de criança não é em anúncio publicitário, resolvi proteger a identidade das duas garotas. Até porque elas têm bons anos de vida até os 18 para descobrir que o automóvel é a pior solução para o transporte urbano e o segundo responsável por mortes no Brasil (só perdendo para os homicídios).

PS: na versão impressa do jornal, aparecem as duas meninas acima. Já na edição digital (com link no começo do texto), apenas a loirinha ilustra a reportagem... Afinal, como todos sabem, o Brasil não é um país racista, a escolha da loira foi apenas um acaso e as borboletas nascem no escapamento dos carros.

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Comments:
Na veja dessa semana está a campanha completa impressa. O texto final explicativo da campanha é emocionante.

Mas sinceramente eu acho um progresso esse discurso mentiroso. Ao menos em teoria todos já sabemos o que fazer, o problema é o discurso nunca chegar a realidade.
 
Não concordo com a sociedade baseada em automóvel. Mas todas as modificações do capitalismo são feitas por interesse. Seus comentários são ou xiitas ou inocentes.
Porém, respeito sua opinião. Parabéns pelo blog.
Ab.
 
O automóvel é o maior fator poluidor nas grandes cidades. Em São Paulo, todo dia 10 a 12 pessoas dão a vida para que os carros possam continuar poluindo.

Aí uma montadora faz uma propaganda dizendo que faz todo esforço possível para não poluir, mostra crianças nas fotos com seus supostos desejos sobre os automóveis do futuro, focando no impacto ambiental, para apelar ao instinto materno-paternal dos consumidores e prepará-los para absorver emocionalmente o texto que se segue. Estudaram a cartilha direitinho, antes de assar o bife martelaram bem pra amaciar. O texto diz que fazemos tudo que está ao nosso alcance, poluímos o mínimo possível, bla bla bla.

"Eu fabrico máquinas que matam pessoas, mas faço o possível para que elas matem só um pouquinho." É hipocrisia dizer isso para as pessoas que morrem por infarto e arritmia cardíaca em decorrência do monóxido de carbono, às pessoas que manifestam tumores disparados pelos hidrocarbonetos do combustível parcialmente queimado e a todos nós que enchemos nossos pulmões todos os dias de material particulado (fuligem).

A propaganda deixa o leitor com a sensação de que a montadora é uma empresa bacana, que se preocupa com as pessoas e faz de tudo para que elas não sofram com a poluição. Se fosse mesmo assim, fabricariam máscaras de gás em vez de carros.

A informação mais importante não é a que a propaganda passa, mas a que ela ilustra. Para ganhar dinheiro e em contrapartida conceder um benefício a quem se dispõe a gastar uma pequena fortuna num carro, a montadora precisa fazer as pessoas como um todo sofrerem. A empresa, essa entidade intangível e afilica que serve de escudo (a)moral para que seus proprietários enriqueçam, não vai deixar de vender seus carros por causa disso.

A empresa vai tentar fazer com que as pessoas sofram um pouco menos, mas não porque se importe com as pessoas, afinal uma empresa não tem compaixão, apenas metas. Vai tomar essa medida não porque uma pesquisa mostrou que os consumidores andam preocupados com o futuro de seus filhos e, se eles não mudarem sua imagem, podem perder mercado. Perder dinheiro. Diminuir os lucros. Deixar de atingir as metas.

Não avaliem uma propaganda com seus corações e sim com suas mentes. Propagandas com animais fofinhos, bebês, crianças, referências veladas ou abertas a sexo, ao senso de justiça ou de auto-preservação colocam o dedo nos nossos instintos básicos, os instintos que guiam nossa sobrevivência e que foram responsáveis por termos chegado no topo da escala evolucionário aqui nessa bolinha azul. Usem suas mentes, separem a emoção e entendam qual a informação real que pode ser percebida naquela propaganda e não a que tentam nos convencer através de subterfúgios e golpes baixos. Compre o que você realmente precisa, não o que te convencem ser importante.
 
Certíssimo. Alguns países nórdicos já proibiram o uso de crianças em publicidade. Aqui, Renato Aragão e Xuxa, responsáveis pelo impulso do conceito de criança-consumidor, são reizinhos.
Bom, sobre a Fiat postei um texto hoje no meu blog - acho que vcs. vão gostar.
Forte abraço,
Rafael Azize
 
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