Se Ayrton Senna estivesse passeando de bicicleta na bela manhã daquele domingo, 1º de maio de 1994, provavelmente estaria vivo até hoje. Mas Senna era amante da velocidade motorizada e, naquela manhã, morreu dentro de um carro a 300km/h. Assim como Ayrton Senna, 50 mil brasileiros morrem a cada ano por causa dos “acidentes” de carro (pedestres e motoristas). Entre os motoristas, a ampla maioria estava numa velocidade incompatível com a via, a situação ou a sua condição física. Já os pedestres têm pouca chance de sobreviver em um choque com duas toneladas de aço.
No mundo, os automóveis e seus motoristas são responsáveis por 1,2 milhões de mortes por ano (revista Veja, 04.nov.2000). O trânsito é a maior causa de óbitos entre os homens (OMS), apesar de dizerem por aí que as mulheres são as más motoristas.
Até hoje não entendo por que é permitido fabricar e vender automóveis que chegam a 180km/h, 200km/h se o limite máximo de velocidade em todo o país não ultrapassa os 120km/h (e se a velocidade na cidade fica em torno de 30km/h). É como permitir a venda de uma metralhadora automática mas dizer que o sujeito só pode dar um tiro por vez com bala de festim. Isso pra não falar das propagandas de veículos, verdadeiras apologias criminosas à velocidade.
De Borba Gato ao automóvel
Na foto acima, a homenagem da cidade de São Paulo ao piloto: o monumento que fica em cima do túnel Ayrton Senna, obra iniciada pelo então prefeito Paulo Maluf. Outra homenagem, desta vez estadual, foi a mudaça de nome da Rodovia dos Trabalhadores: os anônimos homenageados deram lugar à marca Ayrton Senna.
Pelo complexo de três túneis que ligam a 23 de maio ao Morumbi (ou à USP) não circulam ônibus nem bicicletas, apenas veículos particulares, taxis e motocicletas. Geralmente a velocidade média não passa dos 30km/h. Afinal, em São Paulo, um túnel é a distância mais curta entre dois pontos de congestionamento.
A obra tem cheiro de superfaturamento (mais um na carreira de Maluf). Segundo técnicos do setor, com o que foi gasto para construir os túneis (que passam por baixo do lago do Ibirapuera e do Rio Pinheiros) era possível construir uma linha inteira de metrô (incluindo as estações). Mas São Paulo não gosta de metrô, São Paulo gosta de Ayrton Senna. Que descanse em paz... junto com os outros milhões de pilotos urbanos e suas vítimas mortos a cada ano.
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Comments:
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Se Ayrton Senna estivesse passeando de bicicleta na bela manhã daquele domingo, 1º de maio de 1994, certamente estaria vivo até hoje.
Talvez... Mas isso ninguém pode saber! OK, ele não estaria em Ímola, mas poderia ter sido atropelado por um carro em SP. Ou morrido de outro jeito -- talvez de desgosto, por não estar fazendo o que gostava, que era pilotar seu F1.
Um pouco infeliz o início do texto, mas o resto está mesmo muito bom.
BF
Talvez... Mas isso ninguém pode saber! OK, ele não estaria em Ímola, mas poderia ter sido atropelado por um carro em SP. Ou morrido de outro jeito -- talvez de desgosto, por não estar fazendo o que gostava, que era pilotar seu F1.
Um pouco infeliz o início do texto, mas o resto está mesmo muito bom.
BF
Substituído "certamente estaria vivo" por "provavelmente estivesse vivo".
Ele poderia ter sido uma das 1500 vítimas/ano do trânsito paulistano ou ter morrido de outra forma.
De qualquer forma, o primeiro parágrafo cumpriu apenas função de fábula iconoclasta numa história que é bem real: a dos mortos em acidentes automobilísticos.
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Ele poderia ter sido uma das 1500 vítimas/ano do trânsito paulistano ou ter morrido de outra forma.
De qualquer forma, o primeiro parágrafo cumpriu apenas função de fábula iconoclasta numa história que é bem real: a dos mortos em acidentes automobilísticos.
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