terça-feira, maio 10, 2005

Menos vagas, mais ciclovias e faixas de ônibus


(espaço público ocupado pelas propriedades privadas)

O Estado de S. Paulo do último domingo trouxe uma matéria sobre o gasto dos paulistanos com estacionamento. Os carro-dependentes chegam a gastar R$447 por mês só para estacionar seus automóveis.

A notícia repercutiu na segunda-feira em alguns programas de TV. A maior parte mostrava o "valor absurdo" cobrado pelos estacionamentos, chegando a sugerir que os preços fossem tabelados (ué, mas não vivemos tempos de livre-concorrência?). Transporte público? Bicicleta? Não... isso é só para quem não "venceu na vida".

Expropriação legalizada
Os automóveis são propriedades privadas e ocupam muito espaço, ainda mais se pensarmos que a taxa de ocupação na cidade é de 1,2 pessoas por veículo. Estacionar de graça nas ruas (espaço público) é uma incongruência gigantesca; a função básica de uma rua é a circulação de veículos (motorizados e não-motorizados). Por isso as pessoas não podem montar piscinas de plástico ou churrasqueiras junto ao meio-fio nem aos domingos.

Em uma cidade que vive entupida pelos carros, uma boa idéia seria restringir ainda mais o estacionamento grátis. O monstruoso espaço ocupado pelos carros poderia ser transformado em ciclovias, praças, canteiros, corredores de ônibus e até em novas faixas de circulação para automóveis.

Sobre a matéria do Estadão, só resta dar risada ao saber que os frequentadores da nova Daslu (centro de compras para grã-finos) terão que desembolsar R$30,00 pela primeira hora de estacionamento. Será que tem estacionamento para bicicletas?

É um gênio!
Resta também lamentar a lógica automobilísitica do consultor de trânsito Luiz Célio Bottura: "Se houvesse estacionamentos privados suficientes, ninguém ia parar na rua, o que livraria pelo menos uma faixa a mais para o trânsito fluir". Só que não há e nunca haverá espaço suficiente para todos os carros; ao menos enquanto o planejamento urbano e econômico continuar voltado para o estímulo aos automóveis.

Vale lembrar que Bottura sugeriu recentemente que os ciclistas deveriam trafegar na contra-mão. Pela lógica do engenheiro, os ciclistas devem se proteger dos carros. Imagino que os pedestres também seriam obrigados a redobrar sua atenção, já que as ruas de mão única passariam a ter tráfego nos dois sentidos (carros em um e bicicletas em outro).

Bottura subverteu a lógica de coexistência pacífica no trânsito ao afirmar que os mais fracos devem se proteger dos mais fortes, quando o Código de Trânsito e o bom-senso prevêem exatamente o oposto. O engenheiro também se esqueceu das aulas de física: em um choque de dois corpos em sentidos opostos, as velocidades são somadas (ou seja, o estrago é bem maior).

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Comments:
muito bom seu texto. esse bottura nunca deve ter andado de bicicleta na vida.... abs
 
Na Daslu, como em qualquer outro lugar de escritórios em SPaulo, nao se permitirá estacionamento de bicicletas.
Cilcista, se quiser, prende a bike no poste, e vai lá comprar um cinto por 800. Dólares.
 
De q planeta vei esse Bottura!? hehehe... E o estacionamento pra Daslu tem q custar 30... mas não 30 reais... e sim 30 dólares ou 30 euros! rs
 
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